segunda-feira, 25 de julho de 2011

Carregar "pause" na cultura pop


Nuno Markl assinou uma crónica interessante na última edição do semanário Expresso. Basicamente, escreve sobre a velocidade e o excesso de propostas culturais comparativamente com uns 15 ou 20 anos atrás. Com o sugestivo título "Alguém Que Carregue no Pause", Markl escreve que há dias foi interpelado por um amigo que lhe perguntou se já se tinha dado conta da oferta que há hoje, comparado com o tempo deles.

Markl respondeu e escreveu: "Já tinha dado conta e odeio. Só pessoas desprovidas de vida podem rejubilar com o total e completo descontrolo em que se encontra a cultura pop moderna. A cada semana surge uma série nova de qualidade. Um filme de qualidade, ou 500 discos de novos artistas. É um ritmo alucinante. Quero de volta o tempo em que parecia que parecia que só existia "A Balada de Hill Street" ou "Cheers", em que parecia sair só um LP por semana. Estou a enlouquecer porque costumava ter tempo para devorar todas as novidades. Longe vai o tempo em que eu estava na vanguarda da descoberta das novidades que iriam tornar-se ouro."

Eu já tinha abordado esta questão no blog por diversas vezes. Na verdade, pegando nas palavras de Nuno Markl, é alucinante o ritmo de oferta cultural dos nossos tempos. Muitíssimo mais quantidade e diversidade do que há 20 anos, quando era muito fácil acompanhar as novidades do novo filme que estreava, dos dois ou três discos a ouvir em cada semana, das duas séries de televisão que passavam semanalmente, de um ou outro livro bom que urgia ler. Agora não. De há uns anos para cá, muito por culpa da internet (mas não só), a oferta de produtos e objectos culturais é demencial. Por dia são editados em média 40 novos livros apenas no mercado português; todos os dias somos inundados com dezenas de novos discos, novas bandas, novas promessas da música nacional ou estrangeira; todas as semanas as revista e jornais da especialidade nos convidam a comprar dezenas de livros que importa ler; todas as semanas estreiam 7 ou 8 filmes nas salas de cinema; todos os dias há 4 ou 5 séries televisivas que se podem ver nos canais temáticos por cabo; etc.

Perante este cenário de super-abundância e diversidade de informação, o desnorte impera mesmo para consumidores culturais experimentados. Paradoxalmente, perante este excesso de oferta, a fruição cultural ressente-se e torna-se angustiante e penoso e demorado fazer a triagem, separar o trigo do joio, seleccionar o essencial do essencial e eliminar o supérfluo.
Sim, são os novos tempos da velocidade da informação e da comunicação, muitas das vezes, à distância de um simples clique. Mas esta velocidade acarreta riscos e paradoxais consequências. Na verdade, era bom fazer mesmo "pause" na cultura pop.

12 comentários:

Anónimo disse...

Perante a realidade actual, julgo importante ter-se a humildade para reconhecer que provavelmente não conhecemos tudo o que merece ser conhecido.

Apesar de ter nascido nos anos 70, faz-me muita confusão a onda saudosista do género "antes era que era bom". Penso que importa ver as inúmeras vantagens da vasta oferta que nos vem parar às mãos, muitas vezes gratuitamente. Não preciso de conhecer tudo o que é bom, mas é bom saber que existe muito coisa boa por aí à espera de ser descoberta. Existe muito lixo, mas até a descoberta do que não presta me permite evoluir e aguçar o meu bom gosto. Não vejo nenhum drama nisso, parece-me antes uma exteriorização de uma crise da meia idade e um pouco o falar "à velho", discurso que abomino.

Unknown disse...

Não é nenhuma exteriorização de crise de meia idade nem é discurso "à velho", coisa que eu próprio também abomino. Nunca gostei de "velhos do restelo". Ou agora só porque se faz uma comparação com a experiência do passado já consubstancia um discurso "à velho"?
Mantenho o que disse com base na minha experiência -e na dos meus amigos. Há coisas boas e más em cada uma dessas gerações, mas é um facto inegável que a oferta de hoje é exponencialmente maior (não é apenas maior - é mesmo 'exponencialmente' maior). Fenómeno que acarreta as questões que eu levantei.

Agora por favor, "velho" é que não sou!

Carlos de Figueiredo disse...

A quantidade e diversidade de produtos culturais disponível na actualidade é, de facto, avassaladora. Contudo, não considero que esse aumento quantitativo tenha sido acompanhado por um igual acréscimo qualitativo. Há muito que ver, ler e ouvir, mas o principal desafio é conseguir fazer a filtragem. No final, percebemos que no meio de tal oceano apenas surgem umas poucas ilhas de originalidade e real mérito. Só os mais "completistas" quererão tentar assimilar e conhecer tudo, mas todos sabemos que a vida é breve e ser selectivo é algo essencial.
Mais uma vez as minhas sinceras saudações ao autor deste magnífico blog.

Bourbonese disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Bourbonese disse...

Bom post! Este é um tópico que nos obriga a reflectir. A grande diferença é que antes degustavamos cultura, procuravamos pela mesma e por vezes até a sobreavaliavamos por falta de oferta. Hoje, ficamos e andamos "perdidos"! Primeiro por que acabamos por não saber (ou mesmo ter tempo) para saber o que realmente vale a pena e passamos ao lado de coisas que serão excelentes mas irão ser eternamente (como dizem os anglo-saxónicos) underrated. Ou não tiveram a sorte de garantir a exposição devido ou simplesmente não chegaram cá. Já dei por mim centenas de vezes numa loja de discos e, perante tanta coisa nova que desconheço mas certamente iria apreciar, acabar por desistir de procurar e acabar por adquirir uma edição especial acrescentada de um disco dos anos 80 que adorei, já eventualmente terei, mas agora vem com invólucro especial alargado ou com som melhorado. Será normal, doutor? Abraço. Jorge

Unknown disse...

É isso Bourbonese. E obrigado pela compra de Kubik, espero que gostes.

Ja agora, Bourbonese vem do grupo dos anos 80 Bourbonese Qualk que chagaram a tocar no Rock-Rendez-Vous?

Anónimo disse...

Caro O Homem Que Sabia Demasiado,

Mas eu não o chamei de "velho", apenas disse que o texto, principalmente o do Nuno Markl, mas também o seu, era um pouco o falar à "velho", coisas completamente distintas.

Unknown disse...

Ok, Alexander, entendido.

Anónimo disse...

johnny guitar,

em tempos de crise temos que nos ajustar às adversidades, e sobretudo gerir o nosso tempo. de facto a cultura pop demonstra que quantidade nao é sinonimo de qualidade. E o que parece à primeira vista ser uma desvantagem, acaba por ser uma vantagem, pois aumenta a curiosidade de conhecer a verdadeira qualidade das artes.

Cump

Rui disse...

Não vivi os anos 80, a minha adolescência foi vivida na fase de transição com o surgir da internet em massa e comparando com o que ainda vi do passado e com o que me é contado por amigos mais velhos o que acho é que hoje ninguém procura a cultura (ou poucos a procuram) toda a gente gosta de música e cinema (literatura dá um pouco mais de trabalho, mesmo a facil) mas muito poucos procuram a musica ou cinenam, vem ter até nós de forma muito facil.

por um lado temos a vantagem de o meio cultural se ter tornado muito mais democratico por outro sinto que à artistas que nunca são devidamente valorizados porque a oferta é tanta que acabam por ter uma semana (com sorte) de fama e depois acabam esquecidos numa pasta qualquer do disco externo lá de casa...

pe disse...

recomendo um livro muito interessante sobre este assunto: http://en.wikipedia.org/wiki/The_Paradox_of_Choice:_Why_More_Is_Less

Anónimo disse...

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