O filme "Amadeus" (1984), de Milos Forman, contém muitas cenas de enorme brilhantismo e intensidade. A música do genial Mozart escorre pelo ecrã como cascata de puro deleite auditivo. É um dos melhores filmes jamais feitos sobre o poder da música. Das muitas cenas fortes desta obra ímpar, há uma de que gosto particularmente: aquela que diz respeito aos últimos dias de vida do compositor austríaco, quando foi obrigado, por razões financeiras, a compor a sua última e derradeira obra - "Requiem".
Mozart, deitado na cama, exausto, febril e doente, dita uma secção musical importante do "Requiem" a Salieri, o "Confutatis".
Tom Hulce é brilhante na forma como encarna um Mozart moribundo mas ainda com surpreendente energia criativa. Mozart dita, de cabeça, a melodia e a harmonia a Salieri (um não menos brilhante F. Murray Abraham), que a transcreve para a partitura com tocante entusiasmo. É um puro e maravilhoso processo de ensino-aprendizagem, de transmissão de saberes do mestre para o aprendiz.
Maravilhosa é também a forma como Milos Forman encena toda a sequência, introduzindo a música nos momentos em que Mozart a dita - como se o compositor a estivesse "mesmo" a ouvir. Historicamente, não se sabe se este momento corresponde, em rigor, a factos verídicos. Mas nem isso interessa muito. É um momento intenso, de pura e rara manifestação superior de criatividade e expressão da arte genial que foi apanágio de Amadeus Mozart, aqui representado nos seus últimos momentos de vida criando uma obra de portentosa emanação emocional - o "Requiem".
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