Sobre este livro, "O Segredo de Joe Gould" (Publicações Dom Quixote), de Joseph Mitchell, disse António Lobo Antunes: "em poucas ocasiões me ri tanto e admirei tanto: li-o três vezes seguidas num pasmo crscente, num júbilo renovado, e a cada leitura descobri um livro diverso, surpreendente, magistral. R.L.Stevenson garantia que se uma obra não tinha encanto não tinha nada. Esta tem-no para dar e vender." E atente-se no que refere a escritora Doris Lessing, vencedora do último Prémio Nobel da Literatura: "É um livro único. Não conheço nada que se lhe compare."Sobre os elogios a este livro ainda poderíamos citar Salman Rushdie, Ian McEwan ou Martin Amis. Quem é afinal Joseph Mitchell para receber tamanhos e incondicionais louvores críticos? Um dos mais importantes jornalistas americanos de sempre. Escreveu para a revista "The New Yorker" nos anos 50. Mitchell percorria as ruas de Nova Iorque à procura de histórias bizarras, sendo um meticuloso observador da realidade (antecipando um outro notável jornalista literário - Truman Capote). A sua escrita é refinada, atenta ao pormenor e repleta de ironia e humor (a que se refere Lobo Antunes). É uma obra de um só fôlego, imbuída de momentos de supremo gozo literário.
O livro "O Segredo de Joe Gould" contém dois perfis que o jornalista escreveu sobre Joe Gould, um vagabundo que largou tudo (inclusive estudos em Harvard) para escrever "Uma história Oral do Nosso Tempo”. Um livro gigantesco, onze vezes maior que a bíblia, onde estaria reunido todo tipo de histórias e conversas que Gould ouvira na vida (recolhendo milhares de diálogos, discussões de rua, bares decadentes de Manhattan, etc). Joe Gould acreditava que, no futuro, essa sua obra seria de grande importância para o estudo histórico de sua época. Tinha como amigos vários escritores, editores, jornalistas e poetas como Ezra Pound ou E.E. Cummings.
Gould morreu em 1957 e o livro que foi escrito nunca foi encontrado - não se sabia mesmo se chegara de facto a existir. Mas a lenda dizia que existia, aumentando a reputação e o fascínio à volta do vagabundo Gould. Em 1964, sete anos após a morte de Gould e mais de vinte anos após o perfil da "The New Yorker", Joseph Mitchell escreveu para a mesma revista outro texto sobre o boémio nova-iorquino - "O Segredo de Joe Gould" -, revelando o mistério guardado por tanto tempo (texto que viria a dar neste livro). Depois dessa reportagem histórica, o jornalista nunca mais publicou sequer um texto. Morreu de cancro em 1996.
"O Segredo de Joe Gould" foi adaptado em 2000 para o cinema por Stanley Tucci, num filme com Ian Holm, Steve Martin e Susan Sarandon. Claro que não será necessário dizer que o filme não faz jus à grandeza e inteligência da obra literária.
3 comentários:
quando é que inovas isto?
sempre a falar do mesmo!
Também o li. E de uma assentada só. É mesmo encantador. Anda para aí um outro livro que reúne as crónicas do joseph mitchell para a new yorker, mas não me lembro do nome... Assim que tiver oportunidade, hei-de arranjar esse também.
O livro que reúne as crónicas chama-se "Sou Todo Ouvidos" e está editado na Ambar", com tradução de José Lima. Eu tenho-o e li metade. Depois cansei-me. Tem coisas muito interessantes mas, em geral, é inferior a "O Segredo de Joe Gould". Sobre esse livro, escrevi um texto que podem ler aqui: http://orgialiteraria.blogspot.com/2006/09/o-segredo-de-joe-gould-joseph-mitchell.html
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