quarta-feira, 2 de abril de 2008

O virtual e o real


Vi ontem no canal AXN um episódio da série C.S.I. Nova Iorque. O argumento deste episódio baseava-se num rapariga que aparecia morta. Até aqui nada de novo, uma vez que é o ponto de partida habitual desta série de investigação criminal. O curioso é que essa rapariga estava vestida e maquilhada como um avatar do "Second Life", um popular site de realidade virtual 3D no qual qualquer pessoa pode assumir uma determinada identidade cibernética (há milhões de utilizadores por todo o mundo). Os investigadores não fizeram mais nada: para investigar o caso entraram no mundo virtual do "Second Life", criaram uma personagem e interagiram com o alegado assassino da tal rapariga. Parte do episódio passou-se em total emersão virtual, e era como se os polícias e o criminoso estivessem a jogar um jogo online de realidade virtual em 3D.
Apesar de ser ficção (a história, não o "Second Life"), pareceu-me um exemplo claro dos novos paradigmas de relações sociais modernas, as quais, cada vez mais, se desenvolvem em ambientes virtuais e menos em contacto físico directo. A realidade quotidiana acaba por se misturar com a realidade virtual, sendo o "Second Life" (entre outras plataformas digitais de comunicação) um meio privilegiado para qualquer pessoa poder projectar outra identidade e criar todo um universo pessoal paralelo (com as inerentes fantasias e sonhos que só podem concretizar-se no mundo virtual). Há quem esteja totalmente viciado no "Second Life", quem quase já não distinga o real do virtual, quem dê mais valor à vida criada no ciberespaço do que à vida real. Era o caso da rapariga do C.S.I. Nova Iorque.
Pierre Lévy
, filósofo e ensaísta francês especialista em cibercultura, revelou no seu livro "O Que é o Virtual?", como a sociedade moderna está a padronizar-se, cada vez mais, por modelos de funcionamento moldados pela tecnologia digital. Por outro lado, o paradigma de "Matrix" parece estar enraizado no nosso quotidiano e nas nossas vivências. Estas manifestações de cibercultura hão-de engolir-nos a todos, mais cedo ou mais tarde. E para o bem e para o mal.

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