quinta-feira, 17 de abril de 2008

Um certo culto que se extingue


Com o encerramento do cinema Quarteto e a morte de Pedro Bandeira Freire (exibidor, programador) desaparece - ou vai-se extinguindo dramaticamente - uma certa memória do cinema, uma militância passional pela 7ª arte que se torna cada vez mais rara. Bandeira Freire personificava esse amor pelo cinema enquanto expressão artística e cultural de uma geração. No consumo desenfreado e massificado do cinema nos centros comerciais, é impossível fruir o cinema como algo imanente, dada a impessoalidade e a indiferença identitária que essas salas comerciais representam. Não pode haver sentimento de cinefilia numa sala abarrotada de miúdos com pipocas e latas de Coca-Cola. Não há cinefilia quando 90% dos filmes em exibição, semanalmente, são de produção dos grandes estúdios de Hollywood, filmes que se esquecem, as mais das vezes, logo após o seu visionamento e que mais não representam do que fogo fátuo audiovisual. Consequentemente, o espaço público para a programação e exibição do chamado cinema de autor, independente, alternativo, europeu e asiático, tende a afunilar-se perigosamente. Valha-nos os festivais de cinema temáticos (DocLisboa, IndieLisboa, Fantasporto) e a cultura do DVD, cujo mercado é cada vez mais diversificado e virado para a história do cinema, que proporciona continuar a alimentar o gosto pela arte que consagrou Eisenstein.

4 comentários:

RUTE disse...

E valha-nos o KING!!

Embora eu considere que estamos perante tempos de mudança. Já é comum vermos mais cinema europeu nos centros comerciais apesar de realmente ser horrivel partilhar a sala com gente barulhenta e que não respeita os outros.

Gooffy007 disse...

As salas da Medeia (Saldanhas, King, Fonte Nova) ainda nos permitem esse belo prazer de estar no silêncio e no escurinho a desfrutar de bom cinema.

Mas o King e o Quarteto eram de facto uma referência, pena a decadência fisica em que caiu o Quarteto e a anunciada transformação do King em Parque de Estacionamento. :-(

Cataclismo Cerebral disse...

A morte dele é como que um símbolo da memória cinéfila que se parece estar a desvanecer...

Unknown disse...

O mundo transformou-se, mas não deixam de ser perenes importantes sentimentos. Felizmente, ainda se morre de Amor. Quarteto e PBF é o primeiro Amor de Perdição mediático do séc XXI. Freire não resistiu à morte do seu ente mais querido.

Entretanto, "Avante Juventude" de Pedro Costa prossegue a sua exibição em Paris, salvo erro pelo 3º mês consecutivo.
Abr
jP