segunda-feira, 7 de abril de 2008

4'33'' - O silêncio de John Cage


Não deixa de ser interessante que o Nuno Markl, conhecido humorista nacional e divulgador das manifestações pop do cinema e da música (estas duas observações não têm nada de pejorativo), divulgue no seu blogue uma das obras mais radicais e vanguardistas da história da música: a interpretação da peça 4’33’’ de John Cage por uma orquestra. Cage foi um esteta revolucionário, mais pelo lado conceptual e teórico do que propriamente pelas suas composições musicais. E 4’33’’, apesar de ser porventura o seu trabalho mais conhecido (tratando-se de Cage deve dar-se uma conotação relativa ao termo “conhecido”), é aquela obra que dinamitou convenções musicais e permitiu abrir o espectro sonoro com a inclusão do silêncio na linguagem musical (ainda que não tenha sido o primeiro a fazê-lo, Cage foi o mais radical). 4’33’’ é uma obra sobre o silêncio, mas um silêncio imaginário, visto que John Cage pretendeu que o público “compusesse” a obra com os ruídos produzidos espontaneamente. Claro que, para Cage, tratava-se também de provocar a audiência com um sentido de humor muito próprio.
Nos anos 40 John Cage visitou uma câmara anecóica na Universidade de Harvard. Esta câmara é, basicamente, uma sala projectada de tal modo a cancelar todos os ruídos ambientes, sendo totalmente à prova de som. As câmaras anecóicas são usadas para medir as propriedades acústicas de instrumentos e microfones, e para executar experiências psico-acústicas. Cage entrou nessa câmara com o intuito de ouvir (ou não) o silêncio absoluto, mas como ele escreveu depois, "ouvi dois sons, um alto e um baixo. Quando os descrevi ao engenheiro de som, ele informou-me que o som alto era do meu sistema nervoso, e o baixo o meu sangue em circulação." Depois desta experiência, Cage escreveu (literalmente) a peça 4’33’’ com três movimentos e apresentou-a pela primeira vez ao vivo (com uma assistência atónica) com a interpretação do pianista David Tudor, em Agosto de 1952. Cage abriu, desta forma abrupta, novas portas de percepção sonora, acústica e estética.

4 comentários:

Anónimo disse...

quanto tempo ele ficou na câmara??

Unknown disse...

É uma boa pergunta à qual eu não sei responder...

Unknown disse...

Sinceramente...

Unknown disse...

Depois de CIVILIZAÇÃO DO ESPETÁCULO, de Mario Vargas, meus sentidos foram amplificados demais para aceitar alguns movimentos artísticos...
Tomei a pílula certa e saí da MATRIX.