sábado, 19 de julho de 2008

Eisenstein - visão e revolução


Saiu ontem mais um volume da colecção "Grandes Realizadores - Cahiers du Cinema" do Público. Desta vez, um livro de 100 páginas sobre o genial realizador russo Serguei Eisenstein e o DVD "O Couraçado Potemkine", prodigioso objecto cinematográfico sobre a rebelião dos marinheiros do navio Potemkine. O cineasta que tantos problemas teve com Estaline e o poder soviético foi o criador de uma linguagem visual assente no poder da "montagem das atracções", uma ferramenta (técnica e estética) indissociável da vanguarda russa (com Dziga Vertov e Pudovkin) - a arte de colar um plano a seguir ao outro de forma a criar ritmos e significados distintos, formas de expressão visual específicas, conforme as necessidades da narrativa fílmica.
Sobre o filme "O Couraçado Potemkine" (1925) não há muito a dizer, já que é porventura um dos filmes mais estudados, comentados e citados de todo o mundo. Como fez Brian de Palma no seu filme "Os Intocáveis" (1987), no qual cita (homenageia, ao mesmo tempo) a célebre sequência da escadaria de Odessa - um carrinho de bebé que desce as escadas descontroladamente enquanto se gera um tiroteio.
Lembro-me bem quando vi esta obra-prima de Eisenstein numa sala de cinema. Foi em 1995, inserido num programa de comemorações dos 100 anos do cinema. Já o conhecia da televisão e do vídeo, mas vê-lo numa sala escura e em ecrã gigante era um momento imperdível. A experiência de ver o filme em sala escura foi portentosa, só perturbada por um grupo de estudantes de comunicação (ensino superior) que não sabia ao que estava a assistir. Daí os comentários ingénuos: "filme a preto e branco?" "Ainda por cima mudo e russo?!". Claro que o professor acompanhante não tinha preparado os estudantes para o que iriam ver. Era preciso ter feito uma contextualização histórica, social e artística do filme.
"O Couraçado Potemkine" é um filme que contribuiu enormemente para a evolução estética da linguagem cinematográfica, e uma ode à força do espírito humano, à libertação face à repressão do homem pelo homem. No final, não existe apenas um único herói na revolta do Potemkin, existe também a heroicidade do povo, das massas anónimas.

Para todo sempre, ficará sempre gravada na memória esta que é, porventura, a mais espantosa sequência jamais filmada: o massacre da escadaria de Odessa. A arte da montagem em todo o seu esplendor, a violência gráfica e emocional dos acontecimentos, a tensão psicológica patente no grito mudo da mulher com o filho morto nos braços, os passos ritmados dos soldados cossacos (guarda imperial do Czar russo) a descer a escadaria, as sombras e os esgares do povo a ser trucidado, as estátuas que parecem erguer-se perante tamanha carnificina, em suma, o puro fascínio das imagens a que designámos de arte sétima.

2 comentários:

Anónimo disse...

Uma homenagem merecida, sem dúvida. Eu já tinha o filme em dvd, mas voltei a comprá-lo por causa do livro. Um dia falarei tb falarei deste cineasta genial no meu blog. Assim como o assombroso Mizoguchi que tb comprei há um par de semanas.

Anónimo disse...

o falarei não me largou o tempo todo e, depois, vai disto: sai em duplicado! E um gajo nem pode corrigir!