quarta-feira, 9 de julho de 2008

Lightning Bolt - ruído mágico


Há quase 20 anos que bandas japonesas como os Boredoms ou os Ruins destroem todas as convenções instituídas do rock: não lhes interessa a exequibilidade fácil de fórmulas, mas sim a procura pela pura visceralidade das formas musicais. É esta visão da música que os Lightning Bolt vieram enriquecer quando editaram o seu discoe “Hypermagic Moutain”, em 2005.
Da pacata cidade de Providence, em Rhode Island, nasceram há dez anos os Lightning Bolt, talvez a banda mais singular e criativa de todo o movimento noise actual. Singular pela original formação: Brian Chippendale na bateria trituradora e tribal (e, ocasionalmente, nas vocalizações) e Brian Gibson no baixo abrasivo e imprevisível (que mais parece debitar constantes riffs de guitarra eléctrica!); criativa, também, pela enorme capacidade que os dois músicos revelam em modelar a sua linguagem musical num processo de catarse e de energia incontida.
Com estas premissas invulgares, depressa foi crescendo o reconhecimento dos Lightning Bolt no circuito underground norte-americano, muito por culpa das suas actuações impressionantes no meio da assistência (muitas vezes mascarados), pela singularidade da formação e pelo domínio rítmico avassalador de Chippendale (e da sua velocidade de execução efusiva), aliado às sonoridades rispidamente improváveis do baixo de Gibson.
A agressividade estonteante da sua música, capaz de entorpecer os ouvintes mais audazes, é revestida de uma abordagem assaz crítica em relação à sociedade americana contemporânea, sem desprezo para o lado puramente hedonista que a música dos Bolt representa. Há um visceralidade incontida na música dos Lightning Bolt que brota de um conceito de independência de normas estabelecidas e de exploração de novos caminhos estéticos.
À custa destas invulgares características, erigiram à sua volta um verdadeiro culto e um percurso ímpar. Sempre na pequena editora Load, a banda de Providence editou até à data quatro álbuns, o primeiro dos quais em 1999 (“Lightning Bolt”), a que se seguiu, dois anos depois, o reconhecido “Ride The Skies”. Na verve desta tendência editorial, os Lightning Bolt lançaram ainda em 2002 o DVD “Lightning Bolt – The Power Of Salad”, eloquente documento audiovisual de concertos ao vivo da digressão americana referente ao Verão de 2001.
No entanto, o turbilhão sonoro imparável dos dois Brian tomou novas e importantes progressões com o espantoso álbum “Wonderful Rainbow”, editado em 2003, no qual o duo consolidou um invejável estatuto artístico, lançando novas e estimulantes directrizes sobre o rumo do noise rock. Os seus discos servem apenas como exemplos acabados do poder hipnótico que esta banda de Providence consegue exercer sobre o ouvinte. Um poder arrasador, à flor da pele, surpreendente e desconcertante. Como a vida, de resto.
Estranhamente, os Lightning Bolt nunca tocaram ao vivo em Portugal, pelo que os seus fãs anseiam para que esse momento chegue. Até porque à custa dos Bolt (e de outras bandas esteticamente similares como Sightings e Wolf Eyes) surgiram várias bandas portuguesas que reclamam as suas influências. Como os Lobster, por exemplo.

1 comentário:

::Andre:: disse...

Nunca tocaram porque não quiseram, Portugal nunca foi uma prioridade. Talvez na próxima tour, embora o entusiasmo já não seja o mesmo...