"A Grande Farra" (1973) de Marco Ferreri é um filme-catarse. Um filme que violenta os valores das classes abastadas, que corrói a sociedade decadente da abundância material, numa virulenta viagem pelos prazeres da carne e devaneios do espírito. Prazeres que são levados ao extremo do extremo.
Neste filme come-se para morrer, não para viver. É um instinto contra-natura, mas aqueles homens sabem disso e assumem-no. É como uma espécie de orgia pornográfico-gastronómica, com o intuito de revelar a comida como uma metáfora trágico-cómica da sociedade moderna.
Os quatro amigos do filme de Marco Ferreri estão bem instalados na vida mas revelam total saturação da aridez da sua existência, resolvendo, por isso, cometer suicídio em grupo.
Os quatro amigos do filme de Marco Ferreri estão bem instalados na vida mas revelam total saturação da aridez da sua existência, resolvendo, por isso, cometer suicídio em grupo.
Para o efeito reúnem-se numa isolada mansão e degustam, durante vários dias, iguarias atrás de iguarias, pitéus atrás de pitéus, muito para além da saciedade. Comem até à exaustão, até à explosão escatológica fatal.
O sexo mistura-se nesta orgia como complemento epicurista do prazer da carne pela carne, em total desvario. Cruel e doentio.
O objectivo da grande e excessiva festa é puramente existencialista: dar algum sentido àquelas vidas através do assumido excesso que levará a uma morte previsível.
Marco Ferreri não faria nenhum outro filme como este e só Pasolini, com o brutal "Saló ou os 120 Dias de Sodoma" (1975), conseguiria superar o nível de choque e o nível de crítica avassaladora a uma sociedade instalada e parasita.
1 comentário:
Foi editada recentemente uma caixa com alguns filmes do Ferreri. Infelizmente sem esta "Grande Bouffe", pelo que o mesma continua inédita em Portugal. E no entanto é o mais célebre de todos os filmes do realizador italiano. Coisas incompreensíveis...
O Rato Cinéfilo
Enviar um comentário