David Wojnarowicz foi um pintor, performer, fotógrafo, escritor e realizador. Morreu em 1992 vítima de Sida, com apenas 37 anos.
Em 1987, este artista fez uma curta-metragem que ainda hoje suscita reacções controversas: "Fire in My Belly". Este curto filme, realizador no formato Super 8mm, inicialmente silencioso e concebido com base numa montagem de imagens aparentemente desligadas umas das outras, aborda a temática da Sida e, por inerência, a vida, a morte, o sexo, a fé e o sofrimento humano.
O filme, segundo David Wojnarowicz, pretendia ser uma meditação poética sobre a forma como o homem lida com uma doença devastadora como a Sida e tudo o que ela acarreta, mas a Igreja Católica e políticos conservadores fizeram outra interpretação desta obra: perversa, provocadora e ofensiva para com os valores religiosos e ícones como Jesus Cristo. Isto porque o realizador mostra um crucifixo coberto de formigas (uma ideia surrealista herdada de Salvador Dalí), dinheiro e derramamento de sangue entre outras imagens consideradas "chocantes". A pressão foi tanta que ainda em Dezembro de 2010, as vozes contestatárias censuraram o filme ao ponto de o retirar de uma exposição num museu nos EUA.
Para mim, o conteúdo da obra nada tem de chocante. Há imagens mais chocantes que são exibidas à hora dos telejornais das televisões e ninguém se incomoda. A arte deve ser interventiva, incómoda, contra-poder, precisamente para despertar consciências e agitar mentalidades.
Voltando ao filme: convém dizer que o seu visionamento se torna uma experiência mais intensa por causa da música que acompanha as imagens surpreendentes: Diamanda Galás. A Diva Negra, que viu um irmão morrer de Sida e que considera esta doença como uma praga moderna, empresta a sua impressionante voz (vinda das profundezas dos infernos) e música (a partir de um excerto de "This is The Law of The Plague") a "Fire in my Belly".
A música de Diamanda é emocionalmente perturbadora e, aliada a estas imagens, forma um conjunto audiovisual realmente único:
Nota: este é um excerto do filme "Fire in My Belly", a versão completa tem 20 minutos, é muda e pode ser vista aqui.
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