quinta-feira, 12 de março de 2009

Música (quase) eterna



John Cage (1912-1992), o compositor e teórico que revolucionou a estética musical do século XX com as suas noções de ruído, silêncio, som, tempo e electroacústica, legou muitos conceitos artísticos vanguardistas que têm sido explorados à saciedade, desde músicos a filósofos da arte. Um deles tem a ver com a noção do "tempo dilatado", que tem expressão máxima numa peça musical que tem a duração de... 639 anos! A peça, intitulada "As Slow as Possible", é interpretada num órgão (na imagem) de uma igreja chamada St. Burchardi, em Halberstadt, na região da saxónia alemã. Composta por John Cage em 1987, a interpretação da peça teve início em 2001 e terminará exactamente em 2640 (se o mundo ainda for mundo, claro).
As notas dos acordes estão escritas na partitura e são tocadas de anos em anos, com calendário agendado para as próximas décadas. Na página da Wikipedia sobre o assunto pode até ouvir-se uma das últimas notas já tocadas no dia 5 de Janeiro de 2005. Para os mais interessados, deixo aqui o excelente site do projecto onde se inlcuem detalhes da composição, fotografias da igreja, desenhos, vídeos, etc.

2 comentários:

João Lisboa disse...

Não conhecia. Mas não era nada em que não tivesse já pensado. De forma ligeiramente diferente: pegar, por exemplo, num coral de Bach, atribuir à semibreve uma duração de 10 minutos, à mínima 5 e por aí fora. Em orgão (ou qualquer electrocoisa), claro.

Unknown disse...

Seria uma boa hipótese, sem dúvida.

O Cage tinha outro projecto bizarro que nunca conseguiu concretizar: pôr a tocar as nove sinfonias de Beethoven... ao mesmo tempo por nove orquestras diferentes. O resultado sonoro da amálgama seria uma experiência única e arrebatadora.

VA