"Shame" ("Vergonha") de Steve McQueen. Não adorei o filme, o que não significa que o achei mau, obviamente (adorei, isso sim, o seu primeiro filme, "Hunger", de 2008). Claro que "Shame" é um belo exercício de cinema, estilizado e formalmente irrepreensível, maravilhosamente fotografado e interpretado. No entanto, não lhe consegui extrair o sumo emocional de que estava à espera. O olhar quase clínico e distanciado de McQueen esvazia a possibilidade de emoção e aumenta o ambiente cru e frio que perpassa por todo o filme.
A obsessão sexual de Brandon (sublime Michael Fassbender) é o motor de todo o processo de angústia e de autocomiseraçao, mas senti que era matéria pouca para aguentar todo o filme. Daí que julgue que "Shame" seja, também, um testemunho da solidão humana numa grande metrópole (eterna Nova Iorque), mais do que meramente a dependência sexual do protagonista (para mim, não houve outros cineasta a filmar melhor a obsessão sexual do que Luis Buñuel).
Isto tudo para dizer que a sequência que mais gostei de todo o filme é aquela que diz respeito ao momento em que Sissy (irmã de Brandon), interpretada por Carey Mulligan, canta num bar uma versão da canção "New York, New York", imortalizada por Frank Sinatra.
Ao que constam as notas de produção, toda esta sequência foi filmada em tempo real, sem cortes, e com as câmaras direccionadas para a actriz e os actores. Estes foram surpreendidos com a performance vocal da actriz e a reacção à mesma é, tudo o indica, realista. É o mais belo e enigmático momento contemplativo de todo o filme, como que a atribuir uma ambiência quente e intimista a um drama de contornos gélidos e obsessivos. E a voz de Mulligan, suave e sedutora, contribui para acentuar essa sensação.
Ao que constam as notas de produção, toda esta sequência foi filmada em tempo real, sem cortes, e com as câmaras direccionadas para a actriz e os actores. Estes foram surpreendidos com a performance vocal da actriz e a reacção à mesma é, tudo o indica, realista. É o mais belo e enigmático momento contemplativo de todo o filme, como que a atribuir uma ambiência quente e intimista a um drama de contornos gélidos e obsessivos. E a voz de Mulligan, suave e sedutora, contribui para acentuar essa sensação.
3 comentários:
Senti o filme exactamente da mesma maneira. Esta cena é sublime!
concordo consigo (em tudo)
É incrível como toda a gente viu o filme, mas ninguém viu o filme. Ainda não encontrei uma crítica que aborde a verdadeira relação entre os irmãos e a razão pela qual o protagonista se refugia no sexo tão evidente nesta cena de que fala e também no telefonema final. O sexo era para ele uma fuga e não um vício. Este filme é violentíssimo pela forma como filma, sem nunca dizer ,o esforço que Brandon faz para resistir ao amor que ambos sentem um pelo outro. Ela insiste com os telefonemas, aparece-lhe em casa, dorme com o patrão, deita-se na cama dele e ele foge ( a cena em que ele sai para correr) tenta matar o desejo noutras camas e com pornografia. Acabamos ( eu acabei) por sentir compaixão por este homem que resiste, que tenta manter alguma réstia de dignidade e agir como aquilo que é – irmão dela. Quase no fim a cena em que pede ajuda a Deus é de ir às lágrimas. Eu fiquei de tal forma impressionada que mal dormi essa noite. Vale a pena voltar a ver - vai ver que está lá tudo - e concluir que é uma obra completamente visceral, sente-se tudo no estômago. No telefonema dela, quase no fim, fica a questão sobre como tudo terá começado…o interessante é que se filma de forma a esconder, tal como o incesto deve ser segredo, está lá mas em segredo, só os dois sabem mas evitam falar sobre isso. É vergonhoso. Foi a primeira vez que vi contar uma história sem contar nada. Impressionante.
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