É uma das mais belas manifestações de cinema dos últimos anos e não é por acaso que conquistou o prémio de melhor realizador em Cannes 2007. Julian Schnabel, artista plástico (amigo do pintor Jean-Michel Basquiat), baseou-se no livro "O Escafandro e a Borboleta" de Jean-Dominique Bauby para realizar um filme com o mesmo título. E que filme.
Estamos em 8 de Dezembro de 1995, um acidente vascular cerebral (AVC) mergulha o jornalista (editor da prestigiada revista de moda ELLE francesa) Jean-Dominique Bauby num coma profundo. Ao acordar, descobre que todas as suas funções motoras estão deterioradas. Está encerrado no seu corpo - apenas consegue controlar o movimento de um olho. E será esse órgão a sua ligação com o mundo e com a vida. Será a piscá-lo que começa por indicar "sim" ou "não" até avançar para a sinalização de letras do alfabeto, construindo palavras e frases. Será assim também que escreverá "O Escafandro e a Borboleta", cujas frases memorizou antes de ditar. Uma história que noutras mãos resvalaria para o sentimentalismo bacoco, na visão de Schnabel torna-se uma forma de expressão de desejos interiores. De emoções que brotam através da comunicação de um só olho. O trabalho de realização e de movimentos de câmara são um verdadeiro tratado. No início do filme apenas vemos o que o protagonista vê (a câmara treme, resvala, embacia quando o olho vê as coisas turvas...), na primeira pessoa. Lemos os seus pensamentos (alguns bem irónicos), sentimos na pela aquela angústia pelo corpo aprisionado. Aos poucos, a libertação vai tomando força, Bauby sente o prazer de viajar com o pensamento, a imaginação.
A espaços, a formação de pintor de Schnabel faz-se ver de forma óbvia - a composição plástica das imagens e matizes de cores revelam isso mesmo. Mathieu Amalric, que interpreta o malogrado Bauby (era para ser Johnny Depp!), é um espanto de contenção emocional, visto que o vemos no decorrer do filme totalmente imóvel mas, ao mesmo tempo, imensamente expressivo. "O Escafandro e a Borboleta" é um filme profundamente humano, um hino à necessidade de sonhar (a metáfora da borboleta), à preserverança. Sem cair na fácil lamechice (até por se tratar de uma história verídica), Schnabel soube equilibrar as várias pulsões em jogo - as da morte e as da vida. Não queria dizer isto - por ser um cliché - mas aqui vai: é uma autêntica lição de vida.
1 comentário:
Já ouvi muito sobre esse livro. Será a próxima aventura literária.
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