A fazer valer as reacções criticas ao último filme do Woody Allen - “Vicky Cristina Barcelona” - estreado no festival de Cannes, estaremos perante um dos filmes mais fracassados e desinspirados do autor de “Hanna e Suas Irmãs”. João Paulo Alcobia (enviado da Antena 3) chega mesmo a classificar o filme como o “pior” da carreira do realizador nova-iorquino. As criticas internacionais também não são muito animadoras. A ser verdade, era algo que se esperava que acontecesse, mais ano, menos ano. Quem faz filmes a um ritmo de um por ano acaba, tendencialmente, por comprometer a qualidade e a regularidade criativas. O último grande filme de Allen da última década é, sem dúvida, o espantoso “Match Point”, um retrato negríssimo da alma humana, da casualidade da vida, da imprevisibilidade do amor e dos efeitos hediondos da ambição revestida de obsessão. Quase, quase ao mesmo nível de “Match Point” está o filme “O Sonho de Cassandra” (2007), outro fresco brutal sobre as paixões humanas extremas que levam à morte, à destruição das relações, ao desabar do sonho de dar sentido à existência (“Scoop”, de 2006 é já uma comédia mediana com parcos rasgos de criatividade assinaláveis).
Os dilemas morais e existenciais, as angústias e medos interiores que perpassam por estes dois filmes da carreira de Woody Allen tomam proporções emocionais insuportáveis. Para os personagens e para os espectadores. São duas obras de um pessimismo pragmático (longe das coordenadas do humor “nonsense” a que nos habituou Allen) que olham a condição humana com uma frieza perturbante e cínica, pejada de pecados infames, sem apaziguamentos de qualquer ordem moral, sem esperança nem redenção. Woody Allen já tinha mostrado ao mundo um filme que espelhava esta visão desesperada da moral ambígua, quando realizou o sublime filme “Crimes e Escapadelas” (1989), com um Martin Landau estarrecedor. É como se autores pessimistas como Schopenhauer, Emile Cioran e Thomas Bernard contaminassem o espírito de Woody Allen a cada novo filme (à excepção deste último em Cannes, que parece ser um regresso ao registo de comédia light).
“Match Point” e “O Sonho de Cassandra” podem ser considerados um díptico e, se juntarmos o referido “Crimes e Escapadelas”, teremos a configuração de um portentoso tríptico. É a veia mais lúgubre e arrasadora de Woody Allen, que destila crimes sem sentido, mortes por “obrigação moral”, ódios mundanos e metafísicos, desnorte existencial e pitadas de um subtil humor negro. São obras que ficarão para a história do cinema como referências absolutas de um cinema de autor extremamente pessoal, que desenvolveu uma abordagem temática própria. Uma temática com preocupações filosóficas e morais que belisca (se é que não queima) o conceito que temos de natureza humana, de esperança na vida, no mundo e no homem. É o Woody Allen mais exitencialista que se possa imaginar, sem esperança de redenção nem fé no que quer que seja.
“Match Point” e “O Sonho de Cassandra” podem ser considerados um díptico e, se juntarmos o referido “Crimes e Escapadelas”, teremos a configuração de um portentoso tríptico. É a veia mais lúgubre e arrasadora de Woody Allen, que destila crimes sem sentido, mortes por “obrigação moral”, ódios mundanos e metafísicos, desnorte existencial e pitadas de um subtil humor negro. São obras que ficarão para a história do cinema como referências absolutas de um cinema de autor extremamente pessoal, que desenvolveu uma abordagem temática própria. Uma temática com preocupações filosóficas e morais que belisca (se é que não queima) o conceito que temos de natureza humana, de esperança na vida, no mundo e no homem. É o Woody Allen mais exitencialista que se possa imaginar, sem esperança de redenção nem fé no que quer que seja.
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