Hoje tem início a 61ª edição do Festival de Cinema de Cannes. O mais competitivo, mediático e afamado festival de cinema do mundo. Existem os prestigiados festivais de Veneza, Berlim, Sundance, mas nenhum se compara, em importância e glamour, ao de Cannes. E não há realizador no mundo, novato ou veterano, que não gostasse de ter os seus filmes a concurso neste festival ou, claro, ganhar a Palma de Ouro. Claro que Cannes é, também um mundo inesgotável de negócio (que o diga Paulo Branco) e de comércio, mas isso faz parte da essência de qualquer festival. Claro que também há frivolidades andantes, figuras públicas e estrelas de pacotilha que se pavoneiam pela carpete vermelha. No entanto, o cerne de Cannes sempre foi e será o cinema, os filmes, os artistas. Isso é que fica para a posteridade.
Poucos serão os cinéfilos que não gostariam de poder assistir ao festival. Sentir o frémito e as emoções resultante do visionamento dos grandes filmes a concurso, partilhar os aplausos ou os apupos aos filmes, assistir às concorridas conferências de imprensa com realizadores e actores, sentir o ritmo frenético da exibição dos filmes em catadupa, as várias secções competitivas, etc.
Foi o que tentei fazer um dia, ir a Cannes - através de um concurso nacional. Foi em 1990 e o concurso, designado, "Sê um Crítico de Cinema e vai a Cannes!" (cito de memória) era dinamizado pelo Instituto Português da Juventude. A coisa funcionava de forma muito simples: qualquer jovem com menos de 25 anos podia participar; bastava ver um filme que na altura estivesse em cartaz e escrever uma crítica ao mesmo. Os autores das 20 melhores críticas nacionais eram seleccionados para irem a Lisboa verem outro filme, outra crítica e, a melhor considerada pelo júri, tinha como prémio ir ao festival de Cannes durante dois dias (ou três, já não me recordo) com todas as despesas pagas.
Fui seleccionado para os 20 participantes de Lisboa com a crítica ao filme "Presumível Inocente" (1990) de Alan J. Pakula (com Harrison Ford), um muito interessante thriller que marcou aquele ano de cinema. Lá fui a Lisboa para a competição final, sempre com Cannes em vista. Cheguei numa sexta-feira. Logo nessa noite, eu os restantes concorrentes decidimos assistir a uma sessão num sítio óbvio, a Cinemateca. Recordo-me que vimos um clássico mediano do Raoul Walsh. O grupo de concorrentes era constituído por jovens estudantes de todo o país, e a única coisa em comum entre todos era a paixão pelo cinema. No sábado seguinte, logo de manhã, eu os outros 19 participantes oriundos de todo o país, fomos visionar o filme para a crítica final que iria decidir quem iria a Cannes. Era um filme tão medíocre e comercial que já nem me lembro que objecto era aquele. As críticas foram entregues ao júri que deliberou no dia seguinte. Quem ficou em primeiro lugar foi um jovem de Lisboa que ganhara o privilégio de conhecer Cannes. Eu fiquei em 4º ou 5º lugar e tive direito a um prémio de consolação: um bilhete para assistir ao Estoril Open! Como não gosto de ténis, despachei logo o dito cujo para outra pessoa interessada. Ir ao Estoril Open em vez de ir a Cannes era consolação para quem quer que fosse?
Foi a única vez que estive perto de ir a Cannes, por intermédio de um concurso juvenil, imagine-se. Talvez um dia programe umas férias em Maio na Côte d'Azur para servir de pretexto para conhecer o festival.
1 comentário:
Nunca é tarde demais. E agora com os low cost que não existe para França mas que podes fazer escala em Espanha, aconselho mesmo a ir à Côte D´Azur.
O mais próximo que estive de Cannes foi Nice o ano passado. Adorei a cor daquela água!! Mas não a testei porque era Outubro e devia de estar fria... No entanto havia banhistas por lá.
Vou enviar para ti uma foto da praia de Nice por mail.
Beijinhos.
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