Este é um país que liga muito pouco à crítica de arte. Os críticos que escrevem para a imprensa generalista ou especializada, sejam de música, cinema, artes plásticas, literatura, ou de teatro, têm a nobre função de divulgar e promover os objectos culturais que analisam. Mas para quem escrevem os críticos? A verdade é que, na esmagadora maioria dos casos, os críticos escrevem para o próprio umbigo, para uns quantos iniciados e para... os outros críticos. É um círculo vicioso que em nada beneficia o leitor médio de jornais ou revistas. O exercício da crítica deve conter tanto de informativo como de emissão de juízo de valor e, tendencialmente, elaborada numa linguagem o menos técnica e hermética possível.
Vem esta introdução a propósito do facto de, no dia 15 de Maio, terem passado 3 anos da morte daquele que considero ter sido um dos melhores críticos de música que este país já teve: Fernando Magalhães (na foto). Com formação em filosofia, a paixão pela música e pelo jornalismo falou mais alto. Durante anos escreveu para diversas publicações, mas foi no (então) semanário Blitz e no diário Público que a escrita de Fernando Magalhães se fez notar. Para além do grande domínio da língua portuguesa, o jornalista tinha uma vasta e diversificada cultura musical, que lhe permitia dissertar com a mesma desenvoltura sobre fado, krautrock, electrónica experimental, world-music ou jazz (foi a ler muitas das suas críticas que desenvolvi o gosto pelas mestiçagens estéticas). Depois, detinha um sentido de humor férreo e cáustico, sobretudo quando fazia reportagens de concertos ao vivo. Tanto revelava valores musicais emergentes como escrevia longas recensões sobre artistas consagrados como Frank Zappa, Residents, Dead Can Dance, Kepa Junkera ou (o seu muito amado) Peter Hammil. Muitas vezes se queixou que o Público não lhe dava rédeas soltas para escrever sobre aquilo que queria realmente escrever (dado que privilegiava as correntes musicais marginais e alternativas), facto que lhe proporcionava uma angústia crescente enquanto profissional. A crítica musical de Fernando Magalhães era cirúrgica, extremamente bem construída, inteligente, pragmática e pedagógica (premissa importante mas desprezada por muitos críticos). Do panorama da crítica musical nacional, só o João Lisboa se lhe compara em dimensão jornalística e cultura musical. Das novas gerações, o estilo jornalístico de Magalhães deixou marcas em críticos como João Bonifácio (Público).
3 anos depois do seu desaparecimento, vale a pena ainda ler ou reler muitos dos seus textos, artigos, críticas e entrevistas. Basta abrir este espaço dedicado à memória da escrita de Fernando Magalhães.
8 comentários:
Gostava muito dos textos dele. Palavras como "folk", "krautrock" ou "rock progressivo" associo-as logo ao Magalhães. E poussuía um sarcasmo muito bem vindo.
Pessoas como ele hão-de deixar sempre SAUDADE...
Estou parvo! Só agora descobri que o FM tinha morrido! Até estou a tremer!
Há anos que pensava que ele teria deixado de escrever, que se tivesse dedicado a qualquer outro modo de vida, sei lá, numa editora, por exemplo, como já aconteceu a outros!!
Não consigo perceber como a sua morte me passou tão ao lado... e estou triste por só o saber agora e desta forma...
Era leitor compulsivo dos seus escritos que me levaram a conhecer tanta música nova e antiga! Nunca esquecerei que foi ele que me "mostrou" os Hedningarda pela primeira vez, numa loja de música ali no Príncipe Real, de que me não recordo o nome, e onde tantas vezes o encontrava... a quantidade de vezes que ouvimos aquilo naquele fim de tarde!
Enfim, resta a saudade e o saber que não foi em vão que ele viveu e escreveu.
Infelzimente é verdade mclabb. Eu também conheci Hedningarna - como muitos outros grupos - através dos textos entusiasmados do FM.
Abraço,
VA
Ver também os sites:
http://fmstereo.awardspace.com/ para os escritos de 1997 e 1998
e a sua continuação em http://fmstereo.webhosting4free.info/ para os escritos de 1999 em diante.
Haja tempo para ir completando tão árdua tarefa.
O saudoso Fernando merece.
Abraços.
Eis um homem que sabe usar as palavras certas e que de uma forma delicada e inteligente constrói textos que cativam qualquer melómano musical como eu.
Algo em comum nos une a admiração de ambos por Peter Hammill & os Van der Graff Generator
Já diziam os franceses "os homens mortos são perigosos",não é o caso do Fernando Magalhães,apenas usei esta frase para relembrar que é um homem que nos continua a cativar e a ensinar apesar de ter falecido e já não se encontrar entre nós. Devemos manter a chama acesa destes grandes homens que ajudaram a fomentar o colectivo cultural & musical português. Cito nomes como António Sérgio,entre outros, que neste momento foi realizado o pequeno documentário e um livro. Não sei se foi publicado algo sobre o Fernando se o foi, gostava de ser informado, mas penso que se devia prestar uma pequena homenagem. Um livro, uma compilação reunindo todos os seus textos na sua grande maioria muito bons.
Estou estupefacto com os últimos estudos de aliteracia e iliteracia musical em Portugal. Muitas das pessoas portuguesas não aceitam que são de facto ignorantes e incultas, mas isto tem muito a haver com o Estado Novo que depois dos seus 50 anos mais os 50 da Democradura que vivemos, são 100 anos de estupidez recalcada ( A Coreia do Norte sofre o mesmo problema mas não sendo fascista é uma ditadura pseudo-comunista, ainda pior).
Este ser é mais um cromo entre muitos que existiram neste planeta e paz à sua alma, se é que a temos, porque antes do homem inventar a escrita já inventava o "Mito" (a estupidez humana em 100% e que só mal fez aos seres humanos desde a temporalidade milenar passada, ainda não conseguida justificar, por "algoritmos ainda a serem testados, mas não comprovados cientificamente").
Deste homem só posso dizer, ainda bem que não foi Inquisidor na Idade Média, pois matava o que não agradava e favorecia os que os bajulavam.
Assim este cromo só posso escrever que foi um manipulador tal como o autor de O martelo das bruxas que foi escrito por Heinrich Kramer durante a idade média e com o apoio do Papa Inocêncio VIII (a 5 de Dezembro de 1484) foi editado na inventada prensa em vários formatos desde o livro, folheto e pasquim ou literatura de cordel, como uma manipulação e contra-informação dos interesses instalados que até hoje continuam a existir por a estupidez humana é imensa, a arrogância é pior, a cultura é um sopro e a humildade é para aqueles que estam calados e sofrem todas as atrocidades. Hoje sabemos que as Sagradas Escrituras não são “Sagradas” mas forjados por homens “radicalistas” (muitos e tantos “afetados” que a história tem, que remonta esta “doença psíquica” ao tempo antes da invenção da personagem de Noé e do Dilúvio que nunca aconteceu, pois esta historieta já era contada à pelo menos 1600 anos antes da invenção de Noé).
Paz à sua alma, pela sua ignorância musical em todas as áreas científicas deste “Assunto”, arrogância, estupidez e falta de cultura e investigação científica. Menos um Heinrich Kramer neste mundo mas que sendo poucos, fazem muito mal a muita gente, sem culpa da sua “loucura e narcisismo”.
Sou um ignorante assumido, todos os dias a aprender, mas nunca fui estúpido para entender que na realidade existem ignorantes que um grau muito superior ao meu.
Eis um ignorante que nunca aprendeu a pensar nem a filosofar e ainda bem que não foste a encarnação do Gengis Kan e eu e muitas pessoas tiveram a sorte de não existirem lá, nesse tempo de loucura raivosa.
Quem não sabe de música, da organologia dos instrumentos, de leitura nas 8 claves, escrita, códigos, partituras, composição, transposição, orquestração, instrumentação, ciências musicais, acústica e eletroacústica, engenharia dos sons e dos materiais refletores, dispersores ou refletores do som, matemática, engenharia acústica e os seus materiais e muito menos não toca ou canta ou sensivelmente compõe para, pelo menos um quarteto (o modelo mais difícil a nível musical e intelectual), então, depois destes conselhos instrutivos, mais vale estar calado e dedicar-se ao outras outra atividade porque infelizmente "toda a gente sabe de música como o cavalo de Calígula sabia de democracia".
Pelo menos este ser, já não faz mais idiotices.
Teve o direito de existir e de se redimir enquanto pôde!
Como diziam os Romanos muto antes da paranoia Cristã, "Espero que a terra não te seja pesada".
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