O musical "Mamma Mia" estreou esta semana. Sempre achei a música dos Abba um manifesto pop piroso, indigno de constar no patamar mais alto da cultura musical popular. Em parte, esse sentimento teve a ver com a década de 80, claramente virada para a glorificação de uma estética excessiva e desvairada, com a qual nunca consegui identificar-me. Lembro-me que, quando era mais novo, se alguém ousasse afirmar gostar da música dos suecos, era logo acusado de letal heresia. "Gostar" dos Abba era o mesmo que assumir um gosto musical fútil, banal, medíocre. Conheço bem as canções dos Abba porque cresci a ouvi-las na rádio e na televisão (bem, não sou tão velho ao ponto de ter assistido ao Festival da Canção em que interpretaram "Waterloo" em 1974!). Como em tudo na vida, as convicções vão-se moldando e evoluindo. Não é por causa deste retorno do "hype" revivalista à volta dos Abba, mas hoje não tenho a mesma opinião que outrora. Os preconceitos na avaliação de um objecto artístico podem ser terríveis e causar uma parcialidade que não corresponde à verdade dos factos. Há dias dei-me ao trabalho de volta a ouvir algumas das canções mais populares (e menos populares) dos Abba. E nesta reavaliação acabei por reconhecer que aquele grupo, vestido de lantejoulas e fatos berrantes, marcou a música popular de forma indiscutível. O trabalho ao nível da construção melódica, a forma como os refrões são construídos, a instrumentação utilizada, as vozes das cantoras, a própria simplicidade e eficácia na estrutura do formato de canção, conferem aos Abba um estatuto superior na história da música pop (como muito bem explanou o crítico do Público, João Bonifácio, no último Y na análise que fez das canções do grupo). Quer queiramos quer não, a sua influência continua a ser notória em muitas bandas pop da actualidade.
Quanto ao filme "Mamma Mia", não tenho intenção de o ver, não só porque continuo a não ser admirador da música dos Abba como assumo não ser grande apreciador do género musical no cinema.
Quanto ao filme "Mamma Mia", não tenho intenção de o ver, não só porque continuo a não ser admirador da música dos Abba como assumo não ser grande apreciador do género musical no cinema.
4 comentários:
«como assumo não ser grande apreciador do género musical no cinema»
Mas «One from the heart» de Coppola, com música de Tom waits, veria de bom grado...não?
Caro Rui: eu referi que não sou "grande apreciador do género musical", pelo que significa que gosto de alguns musicais mas não de todos, ou do género em geral. E não só veria o "One From the Heart" como o vejo com agrado. Ou não reparou nunca que a imagem do meu blogue é retirada... desse preciso filme? ;)
Mamma Mia não passa de um produto revisionista e nostalgico. Não me parece que seja cinema.
«Ou não reparou nunca que a imagem do meu blogue é retirada... desse preciso filme? ;)»
Claro, perguntei apenas para satisfazer a curiosidade. Também não morro de amores pelos musicais, mas tal como o Victor, gosto (muito) de alguns...
Enviar um comentário