quinta-feira, 4 de setembro de 2008

Voz, trailer, cinema


O trailer de cinema é um recurso privilegiado em relação ao lançamento e promoção de qualquer filme. E é uma arte conseguir condensar em menos de dois minutos e meio (a duração média de um trailer) a essência narrativa de um filme. Montagem, música e locução são elementos que devem interagir de forma equilibrada para que o produto final se torne apelativo e estimulante junto do espectador. Desses três elementos, um dos que desempenha preponderante função é a locução (voz off). Uma voz expressiva, de timbre grave e bem colocada (sempre masculina, por sinal), representa metade da eficácia de um trailer. Por norma, são os chamados “voice actors” que emprestam a voz para fazer a locução dos trailers, os quais são, geralmente, especialistas em dobragens de filmes de animação e de voz off para publicidade televisiva/radiofónica. Um dos mais conhecidos a afamados “voice actors” da actualidade é Dan Castellaneta, criador da voz emblemática de Homer Simpson e de muitos outros personagens da série de animação de Matt Groening.
Ora, na passada segunda-feira faleceu aquele que era considerado o maior “voice actor” dos últimos 30 anos: o norte-americano Don LaFontaine (na imagem de cima). No dia a seguir, morreu outra lenda do mesmo ofício: o animador mexicano Bill Meléndez, conhecido por ser a voz do cão animado Snoopy e do seu pássaro Woodstock, morreu aos 91 anos. Meléndez criou a voz pachorrenta de Snoopy mas não tinha a elasticidade e carisma vocal da grande referência da dobragem no cinema de animação - Mel Blanc (apelidado de “homem das mil vozes”), criador que fez as vozes célebres dos cartoons da Warner e da Hanna-Barbera – a sua expressão mais conhecida é a eterna exclamação “That’s All Folks!”, que servia de despedida para os cartoons da Warner Bros.
Don LaFontaine, por seu lado, (faleceu com 68 anos) era dono de uma voz de timbre grave e magnética, especializou-se na narração off de filmes de Hollywood e de spots publicitários ao longo de uma intensa carreira de 40 anos. Tornou-se a voz oficial da Paramount e chegou a fazer a narração de 5 mil trailers de filmes e dezenas de milhar de anúncios para a televisão (Coca-Cola, General Motors, Ford, etc). Alguns dos mais célebres trailers de filmes das últimas décadas contaram com a voz inconfundível de Don LaFontaine – “O Padrinho”, “O Bom, o Mau e o Vilão”, “Exterminador Implacável 2”, "Indiana Jones", “O Homem Elefante”, “Batman”, “Atracção Fatal”, entre milhares de outros. Devido ao timbre grave e poderoso da sua expressividade vocal, LaFontaine preferia narrar trailers de filmes de terror e de suspense. Daí que o seu trabalho de “voice actor” preferido foi o que fez para o filme “Sexta-feira 13”. Ouvindo a sua locução, compreende-se porquê.
Na verdade, qualquer espectador regular de cinema terá visto, em algum momento, um trailer com a voz de Don LaFontaine. Uma voz que alguns diziam ser “um trovão” e a representação terrena da “voz de Deus”. É um lugar-comum afirmar que, por norma, não identificamos o rosto de um “voice actor” ou não conhecemos o seu nome. Normalmente trabalham na sombra e não têm projecção mediática como um actor de cinema (LaFontaine era já uma estrela de Hollywood fruto da sua experiência acumulada de décadas de trabalho). Porém, facilmente reconhecemos a voz em múltiplas produções audiovisuais (com o enfoque nos trailers e na publicidade).

Definitivamente, após o desaparecimento de Don LaFontaine, os trailers não voltarão a ser o que eram.

4 comentários:

Anónimo disse...

yeah! its much better,

Anónimo disse...

help me.

Anónimo disse...

very cool.

sem-se-ver disse...

(para além do spam que me parece constituir os 3 coments acima,)

só para dizer que lhe agradeço este post. está muito informativo e, não, eu cá não sei demasiado: exemplo - não fazia ideia de quem era Don LaFontaine...

obrigada :-)