O Leão de Ouro da 65ª edição do festival de Veneza foi para o filme "The Wrestler" de Darren Aronofsky. O filme retrata os dias decadentes de um ex-combatente de wrestling, interpretado por um - ao que parece- excelente Mickey Rourke. Como não vi o filme, resta-me apenas dizer que este prémio confirma o extraordinário talento do realizador Darren Aronofsky (apesar do apelido é nova-iorquino de gema), após o seu primeiro filme "Pi" (1998) ter ganho o Prémio de Melhor Realizador do Festival de Cinema de Sundance. "Pi", filmado numa inquietante fotografia a preto e branco, é uma incrível viagem surreal pela mente de um génio matemático que tenta compreender a natureza, o homem e os mecanismos da bolsa (!) através de uma fórmula matemática. Foi uma estreia estrondosa por parte de Aronofsky, com um filme altamente engenhoso, uma montagem frenética e uma notável utilização da banda sonora (de Clint Mansell, ex-elemento do grupo Pop Will Eat Itself). Quando vi o filme pela primeira vez, confesso ter pensado imediatamente que Aronofsky se tinha estreado no cinema com uma obra independente tão retumbante como a primeira obra do David Lynch, o mítico "Eraserhead" (1977).
"Requiem for a Dream" (2000) conseguiu o difícil feito de superar a originalidade do primeiro filme. Espantosa meditação sobre o mundo das dependências (drogas, televisão, substâncias diversas) e do universo degradante (físico e psicológico) que provocam a quem se submete a elas. A actriz Ellen Burstyn foi nomeada ao Óscar de Melhor Actriz pela sua impressionante interpretação. Darren Aronofsky consegue, neste "Requiem for a Dream", construir aquele que será o filme definitivo (e sem moralismos primários) sobre um certo mundo actual, desfasado da realidade e repleto de mentes alienadas. Dois anos depois, surge "The Fountain - O Último Capítulo", o realizador e argumentista Darren Aronofsky decide repartir a narrativa em três momentos e espaços distintos: a época das conquistas quinhentistas, o presente e o futuro. Com uma qualidade visual e plástica deslumbrante, "The Fountain" debruça-se sobre temas eternos como a transcendência da alma, a ideia do amor como linha condutora de todas as nossas acções, a memória como elemento catalisador e uma certa reflexão filosófica sobre a mortalidade.
Por conseguinte, com "Pi", "Requiem for a Dream" e "The Fountain", Aronofsky criou uma trilogia de grande coerência estética (ainda que possa não parecer) e de invulgar fulgor artístico. Uma espécie de primeiro capítulo para uma longa carreira. Com o recente e já premiado "The Wrestler", Aronovsky volta a dar cartas no cinema contemporâneo. Vamos ver o que nos espera, daqui a dois anos, o seu próximo projecto chamado... "RoboCop". Esperemos que este filme de cariz manifestamente comercial e de encomenda, não desvirtue as imensas qualidades deste cineasta que um dia disse "When I go to movies I generally want to be taken to another world". Não queremos todos?
2 comentários:
De tudo o que fez, prefiro Pi e Requiem for a Dream. The Fountain, na minha opinião, é talvez o trabalho menos conseguido. O que em nada diminui a minha curiosidade em relação a The Wrestler. Aliás, pelo que me dá a entender, parece ser o mais mais intimista.
Cumprimentos
Atenção que entre o Requiem for a Dream (2000) e o The Fountain (2006)medeiam 6 anos, já que a 1ª "vida" do filme acabou quando o Bradd Pitt abandonou o Barco isto em 2002.
o Requiem for a Dream é uma excelente adptação do livro do Hubert Selby Jr. e o filme em que a Jennifer Connelly começou a ser uma actriz pelo menos na minha opinião.
o π é um filme matemático com laivos psicadélicos é uma pura Trip visual e Sonora.
o The Fountain é um Milagre de filme comatoso renasceu em 2006 e é uma experiência quase mística, e com algumas técnicas visuais inovadoras.
Para o fim fica a música dos filmes do Darren sem a música do Clint Mansell normalmente interpretada pelos Kronos Quartet sem ela não teriam tanta intensidade e seriam bem mais pobres acho que é uma aliança perfeita.
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