quarta-feira, 17 de setembro de 2008

Canções do abismo


Se quisermos fazer uma dicotomia simplista das emoções na música, poderíamos dividir entre a música alegre e a triste. São duas acepções reducionistas, é certo, mas funcionam como indicadores e referências básicas para o que quero explicar. Esta dicotomia pode ser perfeitamente subjectiva e pessoal, na medida em que cada ouvinte reage de forma distinta a estímulos estéticos em geral, e sonoros em particular. Se alguém pode sentir melancolia ao ouvir uma música rotulada como depressiva, outro alguém pode interpretá-la de outra forma (quase) oposta. A personalidade individual de cada pessoa, a sua formação cultural e as suas vivências são os critérios definidores acerca das reacções emocionais que cada música provoca.
Seja como for, é indubitável que há canções que apelam à negritude dos abismos emocionais, enquanto outras sugerem estados de espírito mais positivos e ligeiros. De que lado da barricada existem as canções mais belas, as mais pungentes e tocantes? Porventura, nos dois lados. Pessoalmente, sempre me tocaram mais as canções de matriz melancólica e angustiada, ou não tivessem os Joy Division exercido uma profunda comoção em mim quando adolescente.
O site List Universe listou uma curiosa lista de 10 canções rock tidas como depressivas (com uma breve caracterização de cada uma delas). Todas elas são, efectivamente, grandes canções, no contexto da música e das letras. Estão lá os inevitáveis Joy Division, Jeff Buckley ou Smiths, mas também uns improváveis Tool e The Velvet Underground. Quem quiser que ouça e julgue por si mesmo. De todas estas canções referenciadas, a que ainda hoje me causa mais arrepios na alma é negríssima “One Hundred Years” dos The Cure, da fase mais negra de Robert Smith. Só de ouvir os primeiros riffs de guitarra angustiada, a batida marcial e os versos “It doesn't matter if we all die, ambition in the back of a black car, the fear takes hold, waiting for the death blow”, me dá logo vontade de ir ali cortar os pulsos e voltar…



4 comentários:

Sérgio Currais disse...

Na lista falta esse grande tema do nacional-cançonetista Graciano Saga capaz de levar um totalista do Euromilhões à depressão imediatamente a seguir a ter recebido o prémio: "Vem devagar, emigrante".

Aqui:

http://www.youtube.com/watch?v=_piSc0NMKGk

Rolando Almeida disse...

Bem, sempre considerei o Decades um verdadeiro monumento fúnebre. Confesso que já apreciei mais as canções que me punham na lama. Com o tempo passei a não gostar de estar muito sujo com lama :-)Acrescentaria talvez o chinese envoy do John Cale e algo do LC dos Durrutti Column. Os Cure numca me envolveram na beleza da tristeza. Preferi sempre os Dead Can Dance ou mesmo os Cocteau Twins. Aliás, os anos 80 são anos dourados para os suicidas. Eu se tivesse tendências suicidas jamais me suicidaria nos anos 80. Deve ser por essa razão que, poucos anos depois, recebi o Pills Thrills and Bellyaches dos Hapy Mondays como se estivesse num período de seca e recebesse por graça divina as primeiras gotas de chuva :-)
abraço

Jorge Silva disse...

"I'm only happy when it rains" cantava a Shirley Manson.

O disco "Faith", por sinal o meu favorito deles, parece-me mais "triste" no geral.

Pessoalmente interessa-me todo esse movimento slowcore/sadcore de Low, Hayden, Mazzy Star, Arab Strap, Red House Painters etc...

O efeito que tem em mim é o oposto.

Ivete Sangalo é que me causa depressão.

Jorge Silva disse...

Já não ouvia isto há algum tempo...

Bonnie "Prince" Billy: Death to Everyone
de "I see a Darkness" - 1999

Verso:
I am here, right here
Where god puts none asunder
And you, in black dress and black shoe
You do invite me under
Go on, go there
You can see me aging
Stars turn, balls burn
Coming kids are raging

Refrão:
Death to everyone is gonna come
And it makes hosing much more fun
Death to everyone is gonna come
And it makes hosing much more fun
La la la ...

Verso:
Every terrible thing is a relief
Even months on end buried in grief
Are easy light times which have to end
With the coming of your death friend

Refrão

Verso:
So strap me on and raise me high
Cause buddy I'm not afraid to die
But life is long and it's tremendous
And we're glad that you're here with us
And since we know an end will come
It makes our living fun

Refrão

Outro:
Death to me and death to you
Tell me what else can we do die do
Death to all and death to each
Our own god-bottle s'within reach

Final:
Death to everyone is gonna come
And it makes hosing much more fun