sexta-feira, 19 de setembro de 2008

Uma questão de t-shirt


Hoje tive um ataque de nostalgia ao passar na rua por um miúdo com uma t-shirt dos Joy Division, igualzinha a esta. Não tinha mais de 16 ou 17 anos, exactamente a idade com que eu me tornei fanático do grupo de Ian Curtis e que envergava, de igual modo, as t-shirts dos Joy Division. Há anos e anos que não vejo ninguém vestido com uma t-shirt de um grupo de que gosto, especialmente, dos Joy Division. E mais especialmente ainda, por se tratar de um adolescente, e não de um trintão saudosista das bandas de que gostava quando jovem. Nos anos 80 havia o culto das t-shirts das bandas preferidas. E havia t-shirts dos grupos mais estranhos e obscuros. Era como que um ritual de identificação à volta dos gostos musicais cuja representação visual era sustentada, de forma orgulhosa e altiva, pelas inevitáveis t-shirts. Era assim com a comunidade de amantes de rock alternativo, como era para a de música experimental ou para o grupo de fãs de death-metal. De há uns bons anos a esta parte, parece-me que este fenómeno se esbateu sobremaneira. Os rituais de identificação da cultura juvenil assumiram outros códigos na era da tecnologia digital.
Pergunto-me qual a razão que levará um adolescente de hoje a gostar de uma banda depressiva que já não existe há 28 anos e cujo vocalista se suicidou. Claro que o "hype" à volta do filme "Control" de Anton Corbijn e do documentário "Joy Division" de Grant Gee poderão ter sido condicionadores. Mas há uma grande diferença entre a experiência de conhecer a música de "Closer" hoje ou a de ter conhecido em meados dos anos 80, quando ainda se faziam sentir os despojos estéticos da geração pós-Manchester. Seja como for, confesso que gostei de ver um miúdo a envergar Joy Division ao peito. Só espero é que seja por gostar mesmo da música e não por questões meramente estéticas. Fico sempre com esta dúvida desde que perguntei a uma jovem que ostentava uma mala com a figura de Jack Skellington se gostava do filme "Nigthmare Before Christmas" e me respondeu que não sabia o que isso era...

7 comentários:

Rolando Almeida disse...

Boa reflexão, a que aqui apresentas. Além do mais o que dizes é factual e eu nunca me tinha dado conta. Agora uma confissão: já tive t-shirts dos Pixies, duas dos einsturzende neubauten, uma dos bizara locomotiva e mais umas quantas. Hoje em dia tenho uma que ocasionalmente ostento, dos Ramones. Mas quando com ela vestida, acho que ninguém repara na coisa... :-(

Anónimo disse...

Sim, sem dúvida que anda aí muita gente que usa T-shirt dessas só por usar, mas discordo da "dúvida" que surge imediatamente quando vemos um adolescente de hoje com T-shirts de fenómenos com mais anos de idade. Não me parece correcto "elitizar" o gosto, confinando-o aos "contemporâneos".

Eu próprio sou mais jovem do que os Joy Division e adorava ter uma T-Shirt deles. Já agora, aqui na zona do Porto, há alguma loja com coisas do género? Gostava de ter uma dessas.

P.S.: Bom blog. Está no meu Reader. ^^

Tradux disse...

Eu a minha dos Joy Division tive de a deitar fora, de tão usada que estava. Comprei-a em Paredes de Coura há 3 anos juntamente com uma dos Arcade Fire e outra dos The Who que ainda uso e outra dos Pixies que deixou de me servir. Mas concordo, cada vez se vê menos esse tipo de identificação. Mas por exemplo essas malas do Jack Skellington já vi muitas...mas duvido que metade das pessoas que as usavam já tivessem visto o filme ou tivessem sequer conhecimento da sua existência.

Blue Bird disse...

Eu tenho que contar isto...é super bizarro mas juro que foi verdade, há umas semanas atrás ia eu a sair do metro nas picoas em Lisboa e passa por mim uma senhora de cinquenta e picos anos com casaco, saia, sapatos de saltos altos (vestida digamos normalmente)com excepção da camisa que trazia por baixo do casaco,ou seja, trazia uma t-shirt preta com o logo dos Neubauten!! Aquilo não batia certo, fiquei parado a olhar incrédulo!! Parece-me que nem ela sabia o que tinha vestido com toda a certeza!! Mas como teria arranjado a t-shirt?? Seria de um filho?? Eu também tive t-shirts de bandas e acho que não deixava a minha mãe ir para a rua com uma...só acho que havia ali qualquer coisa que não batia certo...lol

::Andre:: disse...

Mmmmmm, eu continuo a ver muita malta com tshirts de bandas, principalmente nos nossos concertos. E sim, também tenho essa dos Joy Division...

Maria disse...

Pois fique descansado que há muita gente da minha geração (19,20s) que conhece bem (realmente bem) Joy Division (e do clã detentor da famosa t-shirt do Unknown Pleasures). Eu própria tenho um belíssimo poster do Closer.

Anónimo disse...

Eu tenho 20 anos a adoro Joy Division, talvez um pouco por influencia do meu pai, mas aprendi a ouvir bem as letras escritas por Ian Curtis e fascinaram-me, aliás tenho varios amigos que também gostam. Existem pessoas que gostam de pesquisar bandas antigas que marcaram, como disseram em cima, os filmes poderão ter ajudado, ainda assim ha quem ouça boa música.
Bom blog