É o filósofo do momento. O filósofo que não se resigna apenas a ser filósofo, uma vez que se tornou quase numa espécie de figura académica da cultura pop contemporânea. Por onde passa a dar conferências - desde universidades conceituadas de todo o mundo a espaços culturais alternativos - como a portuguesa Fábrica de Braço de Prata (onde esteve em Julho último), deixa um rasto de inteligência, cultura e humor (há vídeos no YouTube que comprovam o seu sentido de humor "nonsense"). Extravasa, com a mais desconcertante facilidade intelectual, as fronteiras rígidas dos objectos de estudo convencionais da filosofia, e acrescenta ao seu método de análise temas como psicanálise, cinema experimental, música pop, sexo, literatura, linguística, sociologia, teoria da cultura de massas, cibernética, entre outros.
O esloveno Slavoj Zizek representa esta figura cultural pluridisciplinar, observando a realidade social, política e cultural sob os mais diversos ângulos possíveis, como se fosse o rosto crítico da globalização neo-liberal. Conheci o autor quando editou em Portugal o livro "Bem-Vindo ao Deserto do Real" (Relógio D'Água, 2006). Uma obra em que, partindo do filme "Matrix" e de toda a sua ideologia da "falsa realidade", propunha uma análise crítica das complexidades do mundo actual, sobretudo a partir dos desafios políticos impostos com o 11 de Setembro e suas consequências. A sua escrita, apesar das múltiplas referências à cultura popular, nem sempre é de fácil inteligibilidade, dado que o seu pensamento se desdobra em conceitos filosóficos, psicanalíticos, sociológicos e culturais. No entanto, da explanação das suas ideias saltam sempre motivos fortes de reflexão para o leitor, seja em que terreno temático for. A argúcia como interliga conceitos tão dispersos e os liga de forma coerente, revela um pensador que tem consciência clara que escreve/fala tanto para o público erudito/iniciado, como para o público leigo/popular (à falta de melhor classificação...).
O seu último livro, recentemente editado pela editora Orfeu Negro, "Lacrimae Rerum", é um conjunto de quatro ensaios sobre a semiótica do cinema, particularmente, de quatro realizadores: Kieslowski, Hitchcock, Lynch e Tarkovski. Sendo que três dos meus cineastas preferidos são os três últimos referenciados, não poderia deixar de me aventurar na leitura do livro. O ensaio que achei mais interessante foi o que Zizek escreveu sobre o universo de David Lynch, talvez porque o seu cinema estabeleça uma ponte, mais ou menos óbvia e directa, com a psicanálise. Sobre o cineasta russo Tarkovski, Zizek aprofunda as raízes e motivações de ordem política e cultural da Rússia do realizador de "Stalker" para caracterizar a essência de um autor metafísico e complexo. Sobre os ensaios de Hitchcock e Kieslowski, ainda só li passagens inconclusivas.
Seja como for, o livro "Lacrimae Rerum", com os seus ensaios focados na estética e na semiótica das imagens, levanta novas perspectivas críticas em relação ao cinema, ao seu poder de intervenção no real e ao simbolismo filosófico que representa na cultura contemporânea. Uma leitura surpreendente, desafiadora e exigente.
O seu último livro, recentemente editado pela editora Orfeu Negro, "Lacrimae Rerum", é um conjunto de quatro ensaios sobre a semiótica do cinema, particularmente, de quatro realizadores: Kieslowski, Hitchcock, Lynch e Tarkovski. Sendo que três dos meus cineastas preferidos são os três últimos referenciados, não poderia deixar de me aventurar na leitura do livro. O ensaio que achei mais interessante foi o que Zizek escreveu sobre o universo de David Lynch, talvez porque o seu cinema estabeleça uma ponte, mais ou menos óbvia e directa, com a psicanálise. Sobre o cineasta russo Tarkovski, Zizek aprofunda as raízes e motivações de ordem política e cultural da Rússia do realizador de "Stalker" para caracterizar a essência de um autor metafísico e complexo. Sobre os ensaios de Hitchcock e Kieslowski, ainda só li passagens inconclusivas.
Seja como for, o livro "Lacrimae Rerum", com os seus ensaios focados na estética e na semiótica das imagens, levanta novas perspectivas críticas em relação ao cinema, ao seu poder de intervenção no real e ao simbolismo filosófico que representa na cultura contemporânea. Uma leitura surpreendente, desafiadora e exigente.
1 comentário:
Li muito pouco sobre Zizek, apenas algumas matérias esparsas encontradas na internet. Quando tiver mais tempo dou uma olhada nos seus escritos sobre Kubrick. Obrigado pela visita ao blogue.
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