quarta-feira, 3 de fevereiro de 2010

Cinéfilo incompleto


Apesar de já ter visto muitos filmes, de escrever sobre a sétima arte, de me sentir cinéfilo, a verdade é que tenho uma confissão a fazer: falta-me ver muito e bom cinema clássico e de autor. Na realidade, ainda não conheço a obra integral (ou a mais importante) de realizadores como Fassbinder, Otto Preminger, John Huston, Jean Renoir, Billy Wilder, Frank Capra, Sergei Paradjanov, Howard Hawks, Douglas Sirk, Fritz Lang, Mizoguchi, Ozu, Michael Powell, Samuel Fuller, Visconti, Satyajit Ray, Sidney Lumet, Nicholas Ray, Anthony Mann, Godard, Rivette, Kurosawa, Ernst Lubitsch, etc.
Claro que já vi filmes destes realizadores todos - de alguns conheço 3 ou 4 ditos essenciais, mas dada a diversidade e quantidade de filmes realizadores por estes cineastas, revela-se difícil conhecê-los a todos. Em contrapartida, conheço a filmografia completa de Stanley Kubrick, Woody Allen, Jacques Tati, John Cassavetes, Andrei Tarkovski, Luís Buñuel, David Cronenberg, David Lynch, Steven Soderbergh, Francis Ford Coppola, Martin Scorsese, Roman Polanski, Terry Gilliam, Charles Chaplin (longas-metragens), Friedich Murnau, Steven Spielberg, Carl Th. Dreyer, Sergei Eisenstein, entre outros. Julgo que será uma condição inerente a qualquer cinéfilo: a tendência para conhecer e gostar mais de determinadas filmografias em detrimento de outras, umas estéticas face a outras, uns realizadores em comparação com outros. Ou seja, seremos sempre cinéfilos incompletos, e esta condição não é de todo negativa, mas sim construtiva.
Resumindo: como no caso de qualquer amante de música ou de literatura, o caminho do conhecimento está sempre em aberto. A sede de querer e saber mais nunca será saciada, porque, por mais que se conheça e se acumule informação, há-de haver sempre territórios novos e desconhecidos a desbravar. É esse prazer da descoberta constante que sustenta uma experiência cultural enriquecedora. A não ser que acreditemos na máxima de Goethe sobre o assunto: "Só sabemos com exactidão quando sabemos pouco; à medida que vamos adquirindo conhecimentos, instala-se a dúvida".

10 comentários:

Anónimo disse...

Grande post.
Subscrevo. Partilho da mesma insatisfação.

AddCritics disse...

Este post veio de encontro ao sentimento de frustração que por vezes sinto. Gosto cinema, tento ver muito e bom cinema, mas à medida que vou descobrindo o grande cinema apenas descubro que há muito mais para ver e para conhecer.

Mas por outro lado há o prazer da descoberta.

Flávio Gonçalves disse...

Ainda te queixas? Pela lista que fizeste eu nem a filmografia completa de um desses... mas enfim. Comparando, no entanto, idades pode-se, penso, dizer que a diferença substancial advém da minha falta de experiência pessoal. Mas concordo contigo. Há que aprofundar filmografias - e o prazer da redescoberta iguala-se, por vezes, ao da própria descoberta de um fascinante filme. Mas tem calma, penso que podes dizer que já viste muitos filmes da tua vida.

Abraço

Anónimo disse...

Engraçado que as minhas filmografias (in)completas aproximam-se das tuas, na medida em que os realizadores cujas obras conhecemos melhor são os mesmos e também os mesmos são aqueles que queremos conhecer (ainda) mais!
:)

disse...

Permite-me um comentário um pouco tonto/pragmático.

A produção cinematográfica é imensa desde a sua génese. Mesmo que devotemos toda a nossa existência à descoberta de visualização de novas películas, e falo apenas daquelas pelas quais poderemos sentir alguma afinidade e/ou curiosidade, o nosso tempo será sempre escasso para que possamos atingir a satisfação.
E estou a falar apenas de cinema... no qual um realizador prolífico trará ao mundo 20, 30, vá 50 filmes durante a sua carreira...

Que fará da música...
E falo-te do meu caso em particular...
Tens música há quantos séculos? (desde sempre é óbvio), mas registos passíveis de serem interpretados? Milhares, milhões, ziliões?...
E mesmo que te restrinjas a um período, ou compositores... são imensos... e muitas das vezes não há gravações... (os mesmos continuam a gravar o mesmo pela enésima vez... mas até isso é bom)!

Dou por mim no outro dia a ser o 5º indivíduo a visualizar isto http://www.youtube.com/watch?v=UHPc5L5Yqi4&feature=related
E fico parvo como é possível nunca ter ouvido falar do senhor, nunca ter ouvido nada dele...

Já para não falar das múltiplas discussões que se arranjam quando perguntas: "Então e quem é que preferem a tocar o Cravo Bem-Temperado ou Night in Tunisia (que se torna em quem, com quem e quando)?" Esquece... é a selvajaria argumentativa musical, com os participantes coléricos a rasgarem-se com lascas de contrabaixo =)...

E no fundo, como referias algures num post sobre re-ver um filme, acabas sempre por voltar àquelas interpretações que tu mais acarinhas... e ficas ali horas infinitas em "repeat" a saborear pela 475ª vez o It never entered my mind pelo Miles...

João Palhares disse...

Para mim, o pior nem são os filmes nem a música, são mesmo os livros, demoram muito mais a ler e a analisar e, claro, nunca mais acabam, aí é mesmo preciso seleccionar.
Os únicos cineastas cuja obra completa conheço são o Tarantino e o Carpenter, eheh, o Fuller, o Tati e o Tarkovsky estão quase...

Unknown disse...

Flávio: claro que a idade é um factor importante, mas não decisivo.

Zé: é isso mesmo.

João: esse "Tarkovsky está quase" significa que te falta ver que títulos?

João Palhares disse...

Tenho o "andrei rubliov", "a infância de ivan" e as curtas escolares para ver, o resto vi tudo.

Ricardo disse...

É curioso e coincidente - os realizadores de quem mais viste filmes, são também os que eu mais vi.

É impossível ver/ler/escutar tudo o que há em filmes/livros/músicas no mundo através dos tempos - há todo um oceano, para qual os nossos parcos 70/80 anos de vida não chegariam.

Mas uma pessoa vai tentando... Neste momento ando a ver muito cinema britânico da década de 60. E sei que para o dominar, vão haver outras grandes cinematografias que vão ficar prejudicadas. Mas é uma questão de escolhas...

Anónimo disse...

Também tento conhecer mais, mas a verdade é que quando vemos um filme porque é importante conhecer e não agrada, não é bem a mesma coisa. Será assim tão importante? Por exemplo, vi o curioso caso de Benjamin button e cheguei ao fim a desejar ter revisto Kubrick ou buñuel, ou outro dos meus preferidos.