Há um tema que raramente se discute, pensa, reflecte: o silêncio. É imperiosa a necessidade e a importância do silêncio numa sociedade onde o ruído e os sons nos rodeiam de forma omnipresente, e muitas vezes, de forma agressiva. Mas poucas vezes desfrutamos dele como seria desejável. O silêncio parece incomodar até nas relações humanas - como confessa John Travolta a Uma Thurman em "Pulp Fiction" sobre os "silêncios incómodos" num diálogo entre mulher e homem.
No mundo da música é inevitável falar da obra 4'33'' de John Cage, a tal peça "musical" que é apenas silêncio. A visão artística de Cage foi sintomática e visionária (nos anos 60) para dar a entender que o ruído aleatório e o seu contrário, o silêncio mais profundo, podem ser considerados música. Cage rompeu com as convenções estéticas da música contemporânea ao introduzir o elemento silêncio numa composição e abrir as portas à percepção sonora do nosso meio ambiente.
O silêncio no cinema também é fulcral: grandes cineastas como Antonioni, Bergman (deste realizador bastava citar o filme "O Silêncio") ou Tarkovski são autores que passaram quase uma vida artística a abordar o silêncio na vida contemporânea, de como ele interfere na comunicação humana, na percepção da religiosidade e da espiritualidade. E o que dizer do silêncio na poesia? No teatro? O silêncio é peça fundamental na expressividade de emoções e situações. Apesar de não ter palavras, o silêncio é pura comunicação. Sempre que vejo telas de Edward Hopper vislumbro o mais profundo silêncio.
Uma coisa é certa: sem a possibilidade de fruir o silêncio, a nossa vida fica insuportavelmente austera, enclausurada sob si própria, sem espaço para a reflexão, para a interioridade.
Como refere Aldous Huxley: "O silêncio está tão repleto de sabedoria e de espírito em potência como o mármore não talhado é rico em escultura".
Imagem do filme "Stalker" de Andrei Tarkovski
2 comentários:
ou como diz somerset maugham no fio da navalha: o silêncio também é conversa.
spencer
Belo post!
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