Por agora o Estado ainda não proibiu o consumo de café. Mas não me admira que, nesta vertigem governamental de controlo obsessivo dos vícios privados, um dia chegue a hora em que isso aconteça. O que seria da vida sem café e sem cigarro?
Mesmo para quem não fuma ou não bebe café, aceitará a ideia de que sem estas duas formas de consumo não se teria feito a história da humanidade da mesma forma durante o século XX. Não teria havido vida de café (espaço físico), nem vida boémia e artística. O cigarro e o café são, indubitavelmente, duas formas de prazer do homem e duas manifestações da cultura popular. Alguém imagina Humphrey Bogart sem um cigarro na mão? Ou James Dean? Ou Marlene Dietrich? Ou Mickey Rourke?
E se não fosse pelo cigarro e pelo café, não teria havido este belíssimo filme de Jim Jarmusch à volta de... cigarros e café. “Coffee and Cigarrettes” (2003) é uma espécie de apologia dos dois vícios como exercício de liberdade e de afirmação de um gosto pessoal. Um filme minimalista e pragmático: uma mesa de café, duas personagens, conversa fiada (sobre tudo e sobre nada), e rios de café e nicotina. Com quem? Gente desta craveira: Tom Waits, Iggy Pop, Roberto Benigni, Bill Murray, Steve Buscemi, Steve Coogan e Cate Blanchett. E eu que não fumo (só bebo café) dá-me sempre vontade de saborear uma cigarrada depois de ver o filme.
Post a propósito de hoje ser o Dia Mundial sem Tabaco.
8 comentários:
O problema é que fumar tornou-se vulgar, e quem o faz é porque é viciado... Esse charme hollywoodesco/europeu perdeu-se, para o bem ou para o mal..
Um dos poucos Jarmusch que ainda não vi.
Quanto ao fumar ou não, concordo que não se fume em espaços fechados, ou melhor, que haja espaços (falamos de espaços comerciais como cafés principalmente) que possam escolher se querem que se fume ou não. Mediante a informação as pessoas entram se querem.
Comecei a fumar com 15 anos e deixei há pouco tempo atrás (ainda não posso dizer que tenha deixado de fumar pois já tive mais tempo sem fumar do que o que estou e voltei a pegar) mas isto para dizer que incomoda a quem não fume, embora tenha a sua história e a sua cultura não invalida que faça mal à saúde. E sinceramente, não faz falta nenhuma no mundo, assim como a droga.
eu cá tenho tudo isso e esse jarmusch me encanta. portanto, cheers, com um trago de café e uma baforada!
m.ª
ps. venha um post a propósito do dia da criança :)
Apenas vícios, mais nada.
Como vir aqui todos os dias...
Independentemente de isto ou de aquilo de vícios ou menos vícios.
Para quem conheceu a personagem que atira mais rápido que a sua própria sombra sempre com um cigarro na boca , não deixa de estranhar que a criatura de Morris apareça hoje desenhada com uma palha na boca.
A reformulação das Bd de L.Luke ( palha em vez de cigarro ) parece-me digna das teorias totalitárias.
Para mim, é um atentado ao criador, à criação e à época em que a Bd foi criada. Tanto mais que se trata duma referência da nona arte.
Saber se fumar é isto ou aquilo, é já outro debate.
Nuno
Um tópico sobre um filme tão porreiro a tornar-se uma oportunidade para os habituais preachy non smokers. Haja paciência. Não gostam não fumem pá, chatos!
Um vicio leva ao outro e cigarros implica café, são vícios que as vezes nos ficam demasiado caros (na saúde e na carteira, claro), mas não é por sabermos disso que não o experimentamos e mantemos. Como dizia Fernando Pessoa: "todo o prazer é um vicio".
Estive a ler o seu blog e achei fantastico. Principalmente a parte do cinema, parabens.
Enviar um comentário