quarta-feira, 29 de setembro de 2010

Falta um Groucho Marx nos dias de hoje


Em tempos de crise profunda como a actual, o humor é uma boa arma de protesto e de crítica. Foi o que fez Groucho Marx, com os seus filmes, na época da Grande Depressão decorrente do "Crash" da bolsa (1929). Precisávamos, pois, de um Groucho.
A sua figura, só por si, era já cómica o quanto baste. Bigode espesso pintado de negro, charuto ao canto da boca, falador sarcástico e dono de um andar bizarro. Na inscrição da sua lápide, por vontade prórpia, está escrito: “Desculpem Por Não me Levantar”.
Piada derradeira de um homem que soube, na vida como na morte, usar o humor como instrumento de sátira social e política.
Possuía um extraordinário talento comunicativo, fruto da sua eloquência verbal que desconcertava quem o ouvisse falar. Sobretudo as mulheres, já que estas eram sobejamente o alvo preferencial do humor marxista. De resto, das mulheres achava Groucho que eram uma espécie humana de somenos expressão e que raramente as conseguia compreender. Olhava para elas com sobranceria e eram frequentemente objecto de piadas sexistas e cínicas.
Talvez no esforço de entender melhor a alma feminina tenha casado três vezes em diferentes fases da sua vida. A sua última subida ao altar deu-se já Groucho tinha 80 anos. Casou com a sua secretária, uma moça invariavelmente muito mais nova do que ele e que, curiosamente ou talvez não, tinha interpretado um papel num dos primeiros filmes de outro mestre do humor no cinema, Woody Allen. Coincidências? Groucho Marx conheceu o apogeu da fama com os célebres Irmãos Marx, pandilha de humoristas anárquicos, autores de alguns dos mais subversivos filmes feitos em Hollywood (“Um Dia nas Corridas”, “Uma Noite na Ópera”…).

Devastaram cânones sociais e hábitos do capitalismo selvagem que se inculcaram numa burguesia instalada. Romperam regras básicas da narrativa cinematográfica, romperam com convenções de estilo, e introduziram outro elemento primordial para o seu sucesso: a improvisação. Conta-se que no plateau a irreverência era total e que muitas vezes não seguiam o guião, improvisando sequências inteiras.
É claro que por vezes o resultado era o cenário destruído, o guião de pernas para o ar, as actrizes acossadas e o produtor de cabeça perdida. Não havia limites para a criatividade dos Marx e o seu humor feito de situações absurdas e levadas ao paroxismo cómico resultou tanto em admiração como em ódio.
Ainda hoje, depois de trinta anos do desaparecimento da morte do líder dos irmãos Marx, continua a haver legiões de devotos e de admiradores por todo o mundo. Figuras irreverentes com a do Groucho já não existem mais, capazes de subverter a ordem e continuar a assobiar para o lado como se nada fosse.
Voltando ao início: os tempos de hoje necessitavam de um Groucho Marx. Ou, então, uma generalizadoa dose de "espírito marxista".

2 comentários:

Ricardo disse...

Bom texto. Essa sim, seria a verdeira revolução marxista no mundo!

A Bola Indígena disse...

A referência que tenho dele é mesmo o "Duck Soup" :)