segunda-feira, 8 de novembro de 2010

A morte de um grande cinéfilo


Não o sabia oficialmente, mas intui-o. O facto de Manuel Cintra Ferreira ter deixado de escrever no semanário Expresso há quase um ano e a recente homenagem na Cinemateca, indiciavam que o crítico e programador de cinema se encontraria gravemente doente. Faleceu ontem com 68 anos, vítima de cancro.
Habituei-me a ler, durante anos a fio, os textos críticos de MCF no Expresso. Admirava a sua imensa sabedoria sobre o cinema clássico, a sua análise objectiva e nada hermética à arte cinematográfica, a sua abertura às novas tendências do cinema independente. Tinha um discurso claro e coerente.
A sua contribuição como programador da Cinemateca e os textos que produziu para esta instituição, foram, igualmente, de grande valor (mas não me pronuncio sobre esta faceta porque não a vivenciei). Quem o conheceu pessoalmente, enaltece o seu bom carácter humano, a sua memória cinéfila e a sua generosidade.
Houve um tempo em que me dava ao trabalho de recortar críticas de cinema dos filmes que mais gostava. Arquivava esse material num dossiêr específico. Lá estão muitos recortes de textos do Manuel Cintra Ferreira...
Realço o que disse, ao Público, o jornalista e colega Jorge Leitão Ramos: "Ao contrário de muitos críticos que agora entram na sala de cinema com uma 'bola preta' no bolso, Cintra Ferreira ia ver um filme sempre com uma grande abertura de espírito, e com 'cinco estrelas' disponíveis", referiu o crítico de cinema do Expresso, salientando ser essa uma atitude que cada vez mais rareia na crítica de cinema dos nossos dias.
Espero que, onde quer que esteja, o Manuel Cintra Ferreira continue a rever e a deliciar-se com os grandes filmes do John Ford (ao lado do João Bénard da Costa)!

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