terça-feira, 13 de janeiro de 2009

Três décadas a rock' n' rollar



Lembro-me bem dos tempos em que os Xutos e Pontapés eram a única banda de culto em Portugal, apoiados pelo radialista António Sérgio e por fanzines de música alternativa. A banda que, corajosamente, uns anos após o 25 de Abril e num Portugal ainda sem rumo definido, adquirira as influências do punk londrino (Sex Pistols, Clash) e a tradição do rock dos anos 60 (Rolling Stones, Stooges) para fazer um rock directo e sem concessões. Riffs potentes, letras irreverentes (“Mãe, “Ave Maria”, “Sexo”), concertos de arromba na mítica sala de concertos Rock Rendez-Vous e atitude e imagem nunca vistas em Portugal, fizeram da banda de Pedro e Tim o primeiro caso sério de grupo de culto português.
Nem Rui Veloso, nem UHF. Os Xutos foram os primeiros a encarnar o verdadeiro espírito rock’n’roll, a ousar derrubar estereótipos com canções frontais e insubmissas. É verdade que, a partir de 1987, com o disco “Circo de Feras”, os Xutos e Pontapés sofreram uma reviravolta artística, com uma exploração mais comercial do formato canção e um abaixamento do filão rebelde que caracterizou os primeiros anos. Mas este fenómeno de cedência gradual aconteceu também com muitas bandas estrangeiras..
Por isso, para mim, os Xutos e Pontapés, que comemoram hoje 30 anos de carreira, serão sempre recordados por estes dois magníficos álbuns: "78/82" (1982) e "Cerco" (1985). Grandes canções existem nestes discos: "Sémen", "Quando eu Morrer", "Morte Lenta", "Remar, Remar", "Mãe", "Avé Maria", "Barcos Gregos", "O Homem do Leme", "Sexo"...30 anos de carreira e muitas peripécias pelo meio: a partir de agora, os Xutos e Pontapés entraram numa espécie de "idade jurássica". E se não são os pais do rock nacional (paternidade geralmente atribuída, "oficialmente", a Rui Veloso), os Xutos adquiriram o título de dinossauros do rock portuga! Parabéns pela tenacidade e resistência.
Mares convulsos, ressacas estranhas
Cruzam-te a alma de verde escuro
As ondas que te empurram
As vagas que te esmagam
Contra tudo lutas
Contra tudo falhas
Todas as tuas explosões
Redundam em silêncio
Nada me diz
Berras às bestas
Que re sufocam
Em braços viscosos
Cheios de pavor
Esse frio surdo
O frio que te envolve
Nasce na fonte
Na fonte da dor
Remar remar
Força a corrente
Ao mar, ao mar
Que mata a gente

"Remar, Remar"

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