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Neste filme de rara inteligência e humor, Woody Allen assume três funções: argumentista, realizador e actor. O filme é todo ele filmado como se se tratasse de um verdadeiro documentário, recorrendo a imagens e fotografias de arquivo dos anos 20 americanos, com testemunhos de figuras da cultura como Susan Sontag ou Saul Bellow, que contam as peripécias de Zelig. Leonard Zelig consegue conviver com figuras históricas como Hilter, o Papa Pio XXI, Al Capone, Charlie Chaplin, James Cagney, entre muitas outras. Só a doutora Eudora Fletcher (magnífica Mia Farrow) consegue compreender o distúrbio de Zelig, tentando ajudá-lo a superá-lo com uma terapia que vai desencadear uma aproximação amorosa entre ambos. Visualmente, "Zelig" é um trabalho de pura mestria plástica e técnica. Para tal muito contribuiu um dos maiores directores de fotografia de sempre, Gordon Willis (nomeado ao Óscar pela fotografia). Para recriar imagens que pudessem passar por cenas de um verdadeiro documentário, Gordon Willis filmou com câmaras de 8mm e colocou os negativos numa banheira cheia de água. Raspou-os no chão e submeteu-os ao frio, ao calor e à humidade, para os desgastar e, assim, ficarem com a aparência de imagens com 60 ou 70 anos. O resultado
é deveras surpreendente.
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É claro que esta obra de Woody Allen tem um paralelo histórico: “Citizen Kane” (1941), de Orson Welles, o mais conhecido falso documentário da história do cinema. Mas também deixou descendentes, com o filme "Forrest Gump" (1994), no qual o personagem interpretado por Tom Hanks convive com figuras históricas da América. "Zelig" é, pois, um objecto cinematográfico que desafia regras e convenções, está repleto de humor subtil, coloca questões freudianas sobre a personalidade e lança críticas sociais à sociedade de massas dos EUA (a dissolvência da identidade individual face ao colectivo social). E "Zelig" é, no fundo, uma experiência de cinema de grande expressividade visual e estética (mesmo visionando-o em DVD). Os primeiros 9 minutos de filme.
1 comentário:
eu vi no ano passado e nunca me diverti tanto. woody allen é absolutamente genial. beijos, pedrita
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