A cerimónia dos Óscares vai ficar assinalada pelo facto de Jerry Lewis receber o Prémio Humanitário Jean Hersholt pela sua luta de 50 anos contra a distrofia muscular (angariando muito dinheiro para essa causa). Não discuto a justiça e nobreza deste prémio humanitário, mas julgo que a Academia de Artes e Ciências Cinematográficas de Hollywood deveria premiar, igualmente (ou em alternativa), a extraordinária carreira artística de Jerry Lewis com um Óscar honorífico e de carreira. Seria um acto de reconhecimento artístico de elementar justiça para quem, como Jerry, representou uma das figuras mais excelsas da comédia de Hollywood das décadas de 50 e 60. Fosse com o actor Dean Martin (com quem fez dupla em muitos filmes), fosse a solo como actor, produtor, argumentista e realizador, Jerry Lewis foi o mais icónico e inovador dos humoristas americanos, com notáveis obras como "The Nutty Professor" (1963), "The Bellboy" (1960) ou "The Errand Boy" (1961), Lewis assinou algumas das mais brilhantes páginas de humor do cinema americano, com o seu estilo visual único, o seu registo interpretativo expressivo e o seu sentido milimétrico do "gag".
No entanto, a criatividade de Jerry Lewis nunca foi devidamente valorizada, nem pelo público (apesar de alguns êxitos de bilheteira), nem pela crítica de cinema. Nem, sequer, foi alguma vez considerado um "autor", no sentido em que é aplicado, por exemplo, quando falamos do comediante francês Jacques Tati. A sua criatividade foi (quase) sempre empregue ao serviço da comédia (não esqueçamos a sua espantosa prestação na comédia dramática "O Rei da Comédia" de Martin Scorsese, com Robert De Niro), género considerado menor pela Academia que atribui os Óscares. Creio que, como é infelizmente habitual nestas coisas, teremos de aguardar pela sua morte (esperemos que longínqua) para lermos páginas e páginas de elogios póstumos à arte de Jerry Lewis (tem actualmente 82 anos).
Post complementar que escrevi há um ano sobre Jerry Lewis.
Post complementar que escrevi há um ano sobre Jerry Lewis.
3 comentários:
Cada vez mais acho que a Academia está obsoleta nos critérios. É inadmissível Jerry Lewis nunca ter ganho nada lá, e tem filmes estupendos e na qualidade de actor (de comédia) ele é um marco incontornável.
Na actualidade, o mesmo se passa com o Jim Carrey. É certo que ele grangeou a imagem que tem dos imensos filmes banais que fez. Mas é quando ele se aplica como actor sério, que a Academia o gosta de castigar. E ele até merecia ter ganho já. Teve oportunidades para isso, merecidas e com distinção: "The Truman Show (1998)", "Man on the Moon (1999)", "The magestic (2001)" e até -porque não- por "Eternal Sunshine of the Spotless Mind (2004)". Nada lhe deram.
History repeating...
Junto ainda o facto, que eu estou a ganhar uma crescente aversão pelo Oscar.
Eu acho que são factores destes que podem desmoralizar os actores mas também o público.
Sim, de facto, o que se passou com Jerry Lewis tem estado a passar-se, de igual modo, com Jim Carrey.
Actor que, diga-se, deve muito a Jerry - sobretudo no início da carreira era óbvia a influência.
Uma coisa é certa: é mais do que sabido que a Academia não gosta ou não quer atribuir Óscares a actores e realizadores de comédia. Basta ver que Charlie Chaplin nunca recebeu um Óscar na vida - foi-lhe dado um Óscar Honorífico de carreira pouco tempo antes do génio morrer...
Pessoalmente, nunca me identifiquei com o tipo de humor do Jerry Lewis. Nem com o Jim Carry. Não questiono a sua qualidade como actor.
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