sexta-feira, 6 de fevereiro de 2009

Ladrões de vidas


Um operário desempregado consegue uma vaga na Câmara como colocador de cartazes. Para retirar a bicicleta penhorada, a sua esposa empenha os lençóis. Porém, no primeiro dia de trabalho têm a sua bicicleta furtada. Sai com o seu filho à procura nos revendedores de bicicletas usadas. Consegue avistar o ladrão, perseguindo-o por toda Roma num dia de Domingo, sem conseguir prendê-lo. Desesperado pela indiferença e zombaria das pessoas, resolve então, roubar uma bicicleta. Totalmente desajeitado, é imediatamente preso...
Há poucos filmes como este. De uma extraordinária simplicidade narrativa, mas de uma notável profundidade artística. Obra-prima do movimento neo-realista italiano doa anos 40, “Ladrões de Bicicletas”, de Vittorio de Sica é, quanto a mim, o baluarte do cinema italiano do pós guerra. É certo que há Rossellini, há Visconti, há Fellini, há Zurlini, mas De Sica em geral e este "Ladrões de Bicicletas" em particular, representa, para mim, a quinta essência do cinema italiano clássico.
É uma obra comovente e dramática sobre os anos duros da depressão do pós-guerra em Itália (Roma). E é um dos mais importantes filmes europeus de sempre, tendo ganho o Óscar do Melhor Filme Estrangeiro, tornando-se um objecto cinematográfico de culto a nível mundial. Um filme sensível, numa verdadeira lição de vida e de solidariedade (ou da falta dela). Revê-lo é sempre uma emoção, pela abordagem realista dos acontecimentos, pelas impressionantes interpretações, pelo afundar da esperança dos personagens, que se vai tornando em abissal angústia pelo roubo de uma bicicleta que representa toda uma vida. Ladrões de bicicletas, ladrões de vidas.

5 comentários:

Álvaro Martins disse...

Vittorio de Sica tem no seu cinema um pessimismo quase que depressivo em que está mais latente neste Ladrões de Bicicletas e no assombroso Umberto D. Concordo quando dizes "De Sica em geral e este "Ladrões de Bicicletas" em particular, representa, para mim, a quinta essência do cinema italiano clássico." O cinema italiano clássico tem pérolas que jamais serão esquecidas ou ultrapassadas, como é o caso deste filme ou de muitos outros de quem enunciaste, tais como Fellini, Visconti, Rossellini, ou Bertolucci e Tornatore já posteriormente e num movimento diferente...

LeCoqMelodique disse...

Este filme é o melhor exemplo do neo-realismo italiano. É quase possível imaginá-lo como documentário de uma realidade inimaginável. Obrigatório. (já agora, chamo a atenção para os documentários de Martin Scorcese sobre a historia do Cinema Italiano que passaram na 2, há uns meses atrás)

Unknown disse...

Este é um dos filmes que tenho muito interesse em comprar. Ainda assim, na Fnac encontra-se a um preço um pouco inacessível. Ou espero pela sua descida de preço ou recorro ao bom velho Amazon.

Filipe Machado disse...

Ainda não consegui ver, obrigado pela lembrança!

Anónimo disse...

De mestre, de mestre.

A cena final em que ele fica embaraçado 'a frente do filho vale por 500 filmes de hollywood.