"Li muitas vezes que a musica é uma realidade completamente distinta. Foi só nos últimos dias de vida do meu pai que comecei a compreender o poder da musica. Quase com cem anos, o meu pai começara a perder a noção da realidade. Devido à doença de Alzheimer, o seu discurso começou a ficar desconexo, os pensamentos isolados, a memória fragmentada e confusa. Quando a conversa começava a ficar dispersa colocava um CD de musica clássica de que ele gostasse, carregava no play e via a transformação.O mundo do meu pai passava a ser lógico e claro. Já não havia confusão, falhas, não ficava perdido e, o mais surpreendente de tudo, não se esquecia. Era um território familiar. Por vezes o meu pai respondia à beleza da musica chorando simplesmente. Como é que podia emocionar-se com esta musica se se tinha esquecido de todas as outras emoções da sua vida – a minha mãe, a minha irmã e eu em crianças, as alegrias do trabalho, da comida, do viajar e da família? Onde é que a música lhe tocava? Onde está a paisagem onde não há esquecimento? Como é que se libertou de outra memória, uma memória do coração que não está presa ao tempo ou ao lugar, aos acontecimentos ou mesmo aos seus amados?"
Carta de Kathryn Koubek a Oliver Sacks, in “Musicofilia” (Relógio D’Água)
2 comentários:
A música é passificadora. É terapeutica. É conciliadora. É unificadora. A música orienta a nossa atenção, é como o pêndulo do hipnotizador, que nos desvia daquilo que não é essencial.
Daniel Barenboim diz: "Isn’t music, after all, just a collection of beautiful sounds? Is music really more than something very agreeable or exciting to listen to—something that, through its sheer power and eloquence, gives us formidable weapons to forget our existence and the chores of daily life? Millions of people, of course, like to come home after a long day at the office, put their feet up, have a drink, put on a CD, and forget all the problems of the day. But my contention is that music also offers another weapon, and that is one through which we can learn about ourselves, about our society, about politics—in short, about the human being."
Adoro estes "copy-pastes", caiem bem mesmo que já tenha lido o livro (no caso do Lynch).
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