segunda-feira, 23 de fevereiro de 2009

O livro em tempos de crise


aqui tinha chamado a atenção para a excessiva edição de livros em Portugal. Que mercado consegue aguentar uma avalanche diária de 40 novos livros por dia? Uma média de 13 a 15 mil títulos novos são lançados todos os anos pelas mais de 200 editoras existentes em Portugal. As livrarias já não conseguem escoar tantos livros, os críticos literários não se decidem quanto ao próximo livro a criticar, e os leitores comuns ficam desnorteados com tamanha quantidade de oferta. Estou em crer que grande quantidade de oferta não significa maior investimento na cultura ou maior acesso a ela.
O semanário Expresso publicou esta semana uma reportagem sobre o estado actual do mercado livreiro. Como seria de esperar, a crise económica está já instalada nas livrarias e editoras, apesar de não ser consensual a sua aceitação. Célia Henriques, da Bertrand do Chiado, refere que “vende-se muito menos agora do que há um ano”. A mesma sensação tem a Fnac, que já sentiu as quebras de venda neste Natal. João Alvim, administrador da Editorial Verbo, afirma sem problemas que “há uma crise no sector desde meados de 2008”. Afinando pelo mesmo diapasão, Manuel Valente, da Porto Editora, desabafa que “muitos livreiros se queixaram de uma quebra de vendas e que os intermediários estão a ter mais prudência na compra de novidades”.
Porém, muitos agentes do sector do livro não admitem, ainda, a crise, preferindo não falar em números. António Lobato Faria, da Oficina do Livro, é mais radical e antecipa um futuro negro, quando afirma “os livros não são imunes ao que se passa com os rendimentos das famílias, pelo que, se este ano editarmos da mesma maneira que no passado, é o desastre”. Mais optimista é o argumento de Jaime Bulhosa, da editora Pó dos Livros: “o mercado vai sofrer menos com a crise porque as pessoas ficam mais em casa e têm mais tempo para ler”. Mas em que sentido este argumento justifica a não existência de crise no livro? As pessoas que ficam em casa por causa da crise vão necessariamente ler? Só se lerem livros que compraram há anos e que se amontoavam naquela estante com a indicação “a ler oportunamente”...
A ver vamos como é que o livro vai resistir à onda de crise durante o resto de 2009.

5 comentários:

Anónimo disse...

Livros com edição portuguesa compro cada vez menos, e quando compro é na Feira do Livro.

Aproveitando a desvalorização da Libra voltei a comprar livros em inglês e a tendência será para continuar.

Anónimo disse...

Tenho sérias dúvidas de que as pessoas vão ler mais porque ficam mais tempo em casa....

F disse...

Pois. Foi a minha opção: ir à estante escolher um dos muitos livros que herdei e que ainda não tinha lido.

Pó dos Livros disse...

“o mercado vai sofrer menos com a crise porque as pessoas ficam mais em casa e têm mais tempo para ler”.

Como uma frase tirada do contexto (provavelmente de um jornal) pode ser mal interpretada.
Não tem muita importância, mas quando a proferi e no contexto era de alguma forma irónica. O que eu pretendia dizer é que o mercado dos livros não será dos mais afectados, por uma razão muito simples: quem compra livros são sobretudo as classes A e B. :)

Gostei do blogue

Jaime Bulhosa

Unknown disse...

Caro Jaime Bulhosa: obrigado pelo seu contributo. É sempre bom o próprio esclarecer a afirmação que, na verdade, foi retirada da entrevista reproduzida no Expresso.

Apareça mais vezes ;)