segunda-feira, 18 de outubro de 2010

Breton e os manuscritos


André Breton lançou petróleo para a fogueira das artes de vanguarda quando, em 1924, editou o "Manifesto do Surrealismo".
Um verdadeiro manual de insurreiçãoo artística, intelectual e estética que viria a influenciar grande parte da criação artística do restante século XX. Os manuscritos deste célebre documento estavam na posse de Simone Collinet, primeira mulher do artista, e foram leiloados, há dois anos, na capital francesa. O preço de licitação situou-se entre os 200 mil e os 300 mil euros (gostava de saber qual seria a reacção de Breton, caso fosse vivo, a esta exorbitância de dinheiro por um manifesto que, claramente, repudiava os valores relacionados com o vil metal e bens materiais de consumo). Nunca soube em que valor ficou a compra final deste documento (pouco importa, na verdade).
O texto do "Manifesto do Surrealismo" é um texto muito interessante e rico em princípios de intenções, mas lido hoje, é-o sobretudo para estudantes de artes e curiosos. Foi um texto extremamente efémero e datado, visto que o Surrealismo, enquanto movimento artístico oficial e organizado, durou poucos anos. No entanto, a sua génese ideológica e artística conserva importância histórica pela forma como deixou um legado e marcou o pensamento artístico do século XX, assim como grande parte da literatura, pintura, poesia e cinema.
No mesmo manifesto, André Breton definiu Surrealismo da seguinte forma: "Automatismo psíquico pelo qual alguém se propõe a exprimir, seja verbalmente, seja por escrito, seja de qualquer outra maneira, o funcionamento real do pensamento".
Quem quiser ler online ou descarregar o "Manifesto do Surrealismo", basta clicar aqui.

1 comentário:

PortoMaravilha disse...

Existem dois manifestos do Surrealimo. O de 1924 é o primeiro (se a minha memória é boa).

Penso que Breton teria aceite o cacau, ele que considerava como Lénine que o "dinheiro é o nervo da revolução".

Em França, a referência ao surrealismo será uma constante durante o século XX e até nos nossos dias.

O movimento surrealista está intrinsecamente ligado ao movimento trotskista em França.

Maurice Nadeau director do então fantástico quinzenal ( vivam os neologismos)"La quinzaine Littéraire" traduziu com outros "Literatura e Revolução" de Trotsky. Publicação quinzenal fantástica porque totalmente aberta. E foi uma publicação que muito contribuiu para o conhecimento, por exemplo, de F Pessoa em França nos anos 80.

Não creio que seja errado dizer que a secção fr da IVª Internacional tenha sido dirigida por surrealistas.

São textos surrealistas que darão alimento aos situacionistas e à Internacional Situacionista. Os situacionistas estacionaram por assim dizer e os surrealismo continua vivo.

Mesmo se oficialmente já não existe organicamente.

Le Clézio na sua obra " Diego et Frida" conta ou recria a vivência destes dois personagens.

Talvez seja interessante lembrar que Diego Rivera empresta o seu nome a Trotsky para que este escreva com A. breton o manifesto : Pour un art indépendant et révolucionnaire.

Haveria muito mais a acrescentar.

Nuno