Há dias assisti a uma conferência-concerto do maestro António Victorino D'Almeida.
E foi particularmente interessante porque o maestro abordou a sua carreira como compositor para cinema e teatro, tocando diversas peças musicais e explicando o papel da música no cinema.
A dada altura, António Victorino D'Almeida referiu que, ao contrário do que se pensa, a música dos filmes de Alfred Hitchcock quase nunca tinha características de induzir o medo, suspense ou terror que os seus filmes sugerem. Fiquei apenas medianamente convencido com esta teoria. Isto porque a música da maioria dos filmes de Hitchcock não tem, efectivamente, um carácter claramente declarado de produzir medo no espectador, como se vê (e ouve) em produções baratas. A música dos filmes do mestre do suspense sugerem ambientes de perigo, de incerteza, provocam uma sensibilidade dramática, mas quase nunca sem ser totalmente explícita.
O grande momento, na filmografia de Hitchcock em que tal premissa não se verifica, é na célebre sequência das facadas no duche de "Psycho", na qual Bernard Herrmann compôs uma peça agressiva e ríspida para violinos - condizente com a violência das imagens. É que no resto da música deste filme, a música funciona antes como factor de inquietação emocional (talvez ao nível do subconsciente) e não tanto de revelação imediata do suspense. Basta ouvir este brilhante tema principal de "Psycho" para perceber que a música, neste filme, funciona como uma espécie de alavanca sonora que prepara o espectador para as nuances dramáticas do próprio filme, sem explicitar o carácter violento do mesmo (antes jogando na ambiguidade - o mesmo acontece em "Vertigo"). Em suma, esta sim é grande música de filme.
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