quinta-feira, 14 de fevereiro de 2008

O cine-olho em movimento


Este é um daqueles filmes absolutamente obrigatórios em qualquer curso de cinema de qualquer escola mundial que se preze. É uma obra-prima de construção narrativa sem recurso a diálogos ou legendas, e é um dos melhores documentários mudos e um dos melhores de toda a história do cinema. E é de puro cinema que falamos quando falamos de "The Man With The Movie Camera" (O Homem da Câmara de Filmar", 1929) do russo Dziga Vertov. A par de Eisenstein, Vertov foi um dos mais notáveis teóricos da montagem e este filme em particular revela todo o seu talento e criatividade. Com os realizadores russos, a montagem passou a desempenhar um papel preponderantemente estético e dramático, impondo outra dimensão formal ao cinema. "O Homem da Câmara de Filmar" passa-se em Moscovo durante 24 horas, desde o acordar da cidade até ao anoitecer. Em termos estéticos e formais, a obra de Vertov é um monumento raramente igualado. O realizador foi um verdadeiro pioneiro na utilização de todas as técnicas cinematográficas e efeitos visuais disponíveis que mais tarde se vulgarizaram - dissolves, split screen, slow motion e freeze frames. É o cinema em movimento, em acção e em mutação constante, num turbilhão de ideias, símbolos e imagens, que iria influenciar gerações de cineastas. Vertov dizia que era um "cine-olho", um construtor da imagem e da realidade. O que vemos de seguida são os últimos 4 minutos de filme, em que se pode observar a qualidade plástica dos planos, o ritmo frenético da montagem (os últimos 30 segundos são brutais), a realização esplêndida de um artista que competia com Sergei Eisenstein ou F. W. Murnau na obtenção do estatuto de maior cineasta vanguardista do período mudo. A espantosa música original que acompanha esta intensa sequência (como do resto do filme) é de um trio de músicos americanos especializados em bandas sonoras para filmes mudos (actuou uma única vez em Portugal no Teatro Municipal da Guarda): Alloy Orchestra. A Costa do Castelo tem a edição deste filme com esta banda sonora.

2 comentários:

Anónimo disse...

E igualmente extraordinário é ver o documentário de Vertov acompanhado pela magnífica música da Cinematic Orchestra.

Unknown disse...

Sem dúvida!