Confirma-se: "Sweeney Todd - O Terrível Barbeiro de Fleet Street", última obra de Tim Burton, é um portentoso objecto cinematográfico. A todos os níveis. Obra gótica (como tão bem nos habituou Burton) repleta de lirismo deliciosamente negro, e muito, muito sangrenta. A fotografia é espantosa, fazendo parecer Londres de finais do século com Gotham City de Batman. O arrojo formal do filme é apuradíssimo, e as interpretações são nada menos do que perfeitas. Claro que, tratando-se de um musical (género em quase total desuso hoje em dia), irá provocar resistência por parte do público menos acostumado. Mas é precisamente na vertente musical que "Sweeney Todd" cumpre todas as expectativas: Stephen Sondheim, o veterano e consagrado compositor do teatro musical americano, revela ser, como muito bem referiu Nuno Markl no seu blogue, o anti-Andrew Lloyd Webber (e dizer isto é atribuir elogios a Sondheim). E isso só significa que Sondheim é um compositor muitíssimo mais original e ousado, que foge como do Diabo da cruz das convenções e regras ortodoxas da composição para teatro. Não é por acaso que um dos melhores colaboradores de Tim Burton, o músico Danny Elfman, reclama como uma das suas principais influências o compositor de Sweeney Todd. Mas não é apenas com este filme que Sondheim se tem afirmado ao longo dos anos - compôs para filmes como "Reds", "Dick Tracy", entre muitas obras musicais apra teatro (e não esqueçamos que Sweeney Todd é baseado numa peça de teatro musical da Broadway).
Johnny Depp e Helena Bonham Carter, os protagonistas do filme de Burton, são actores-cantores que absorvem toda a energia musical de Sondheim e a transplantam para o grande ecrã com uma desenvoltura desarmante. Há momentos absolutamente deliciosos, de puro encantamento musical - mas também visual - com as orquestrações e arranjos de Sondheim a ecoarem pelas ruas escuras de Londres ou na medonha barbearia de Sweeney Todd. Como disse o veterano crítico de cinema do Expresso, Manuel Cintra Ferreira, "Sweeney Todd" é uma obra-prima para ver e rever."
Nota: E pensar que este filme esteve quase a ser encomendado a Sam Mendes (realizador) e a Russell Crowe (actor)!...
2 comentários:
Infelizmente, não sou capaz de concordar. Digo infelizmente porque sou grande fã da obra de Burton, mas embora lhe reconheça no filme muitas das suas marcas de autor, elas parecem-me menos inspiradas e demasiado presas ao musical original. E toda a trama que envolve Johanna e o marinheiro Anthony passou-me completamente ao lado, em emoção ou qualquer outro interesse dramático. É uma obra que tem vindo a dividir opiniões, e nesse aspecto, percebo perfeitamente porquê.
Cumprimentos cinéfilos.
Não esperava que dividisse opiniões por cá... enfim, sou um enorme admirador de Burton, e o teu post ajuda-me a manter as expectativas lá no topo (então com essa comparação de Londres a Gotham City...).
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