A revista inglesa The Wire tem sido, ao longo dos anos, um verdadeiro paradigma de qualidade jornalística no que se refere à divulgação das músicas de vanguarda. Uma referência internacional no jornalismo musical (está para a música como a revista francesa “Cahiers du Cinema” está para o cinema). De resto, é a própria revista que melhor se define com a máxima “Adventures in Modern Music”. Conheci muitas músicas, bandas, estéticas e compositores lendo a The Wire. Ler a Wire era um acto de descoberta, de fruição e prazer para acompanhar as últimas tendências criativas da música internacional. Actualmente, fico sempre frustrado quando a leio. A disponibilidade e o tempo para tal não são os mesmos. Depois, a diversidade e a quantidade de estéticas existentes hoje em dia, numa espécie de fusões tentaculares e múltiplas, tornam fastidioso o trabalho de acompanhar a actualidade. Há imensa música interessante a descobrir, há imensos artistas com propostas originais (não falo em inovadoras) que importaria conhecer. A Wire dá-nos a sensação que há bons músicos (jazz, electrónica, erudita contemporânea, rock) a tocar em clubes pequenos para meia dúzia de pessoas. Dá a sensação mas é mesmo verdade. No fundo, após ler a The Wire, ficamos com o gosto amargo de saber que é impossível fruir e conhecer todas as boas propostas artísticas que a revista promove. E a frustração instala-se. É como entrar numa boa livraria repleta de milhares de bons livros e sair de lá com apenas com um ou dois comprados.
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