Quino (à esquerda) é um génio. Ponto. A sua arte não se resume a mero entretenimento infanto-juvenil. A sua arte, vinda de uma expressão outrora tida como menor, serve como cavalo de batalha para denunciar os males da sociedade. A banda desenhada que criou ao longo das últimas três décadas resultam de uma reflexão apuradíssima da vida, das relações humanas e dos seus efeitos na evolução do mundo. Há muita filosofia no desenho - e respectiva mensagem - de Quino. Há muita angústia existencial para se restringir às crianças. Só os adultos descodificam muitas das mensagens que Quino apresenta unicamente sob a capa do desenho despojado - sem diálogos ou legendas. Uma tira deste autor argentino, com um traço certeiro e muita astúcia, pode proporcionar mais reflexão e debate do que muitas máximas de pensadores célebres. A sua inteligência e poder de observação da realidade são reveladores de uma personalidade pragmática. Em termos formais, Quino investe numa certa radicalização das fórmulas convencionais dos "quadradinhos", cujas personagens são surpreendidas, muitas das vezes, por fenómenos surreais e absurdos. A personagem mais conhecida criada por este argentino nascido em 1932, é Mafalda (à direita), verdadeira personificação da rebeldia e insatisfação da geração de 60. Mafalda representa a bandeira da defesa dos direitos humanos e da democracia. Sem Quino, não teria havido Bill Watterson e "Calvin e Hobbes". De resto, Mafalda e toda a restante obra de Quino estão imbuídas de profunda consciência política e social. Todas as personagens que se relacionam com Mafalda representam uma classe social específica, com características culturais e sociais que as diferenciam umas às outras. Daí nasce o conflito, as desigualdades, o azedume. A crítica feroz que Quino incute na banda desenhada que criou induz o leitor a questionar o mundo que o rodeia, como só um bom artista consegue fazer.
2 comentários:
Grande, grande senhor, adoro Quino.
Não sei se Quino não existisse se Bill Waterson existiria como o conhecemos hoje, uma vez que quando falou das suas influências, nunca mencionou Quino, mas antes Charles M. Schulz, o criador de Peanuts.
De qualquer das maneiras são todos grandes senhores e é uma delícia ler os seus livros e críticas.
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