A revista Sábado revela um curioso e recente fenómeno: alguns sem-abrigo de Lisboa procuram guarida nas lojas Fnac (sobretudo a do Chiado). Em vez de passarem o tempo a vaguear nas ruas a pedir esmola em qualquer canto, os sem-abrigo descobriram que podem passar dias inteiros rodeados de discos e livros, sem que ninguém os incomode. As regras da Fnac referem mesmo que, desde que não haja distúrbios ou atitudes menos próprias, qualquer cliente pode ficar horas ininterruptas a ler ou a ouvir música. E os sem-abrigos não incomodam ninguém. A revista dá o exemplo de Aureliano, um sem-abrigo que se instala todos os duas na Fnac do Chiado entre as 16h e as 22h, ocupando o tempo à volta dos discos e a ler livros de filosofia, espiritualismo e auto-ajuda.
Aureliano é um dos cinco sem-abrigos que diariamente vão para a Fnac ler, ouvir música ou dormir. É o próprio que assegura: "Em vez de andar para a aí a vaguear, venho para aqui investir em mim, aprender e tornar o tempo útil." Os funcionários da loja referem que vão buscar livros ou discos às prateleiras e quando acabam de ler ou ouvir, voltam a arrumá-los no sítio. Os sem-abrigo deambulam pelos corredores da loja e ocupam, cada um, o seu próprio espaço "residente": há aquele que ocupa o sofá ao lado da estante dos livros de informática, o outro que se senta invariavelmente ao lado do escaparate dos discos de reggae e por aí fora. Também há o sem-abrigo que se senta em frente o ecrã de plasma gigante e adormece a ver um concerto de música.
Segundo as últimas estatísticas, em Lisboa há perto de 200 sem-abrigos. Se todos aderirem a esta moda de estabelecer residência fixa na Fnac do Chiado, como irá a loja desenvencilhar-se de tão embaraçosa situação? Abrirá novas lojas unicamente para os sem-abrigos, fomentadno uma indesejada segregação social? Se assim for, proponho desde já um título e um conceito para essas lojas especializadas: "Fnac 'Sem-Abrigo': A Cultura Para os Que Não Têm Tecto".
4 comentários:
Não conhecia esta situação, mas acho óptima esta atitude da FNAC.
Caso para dizer que esta história, bem analisada, tem "estofo" para dar um belo filme.
Cumps. cinéfilos.
Compreendo onde queres chegar, mas também admiro esta atitude da Fnac.
estou espantado! os seguranças costumam ser tão chatinhos...
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