Como é possível que cineastas que viveram e trabalharam longos anos só com um olho - como Fritz Lang (na imagem), Nicholas Ray, John Ford, Raoul Walsh ou André de Toth - sejam melhores realizadores do que muitos com os dois olhos?
(Ainda que a pergunta me pareça apenas rétorica.) Na realidade o cinema só tem um olho. O olho da câmara. O problema de muitos realizadores é pensarem com os seus dois olhos e não com esse olho da câmara. E dessa forma acabam por não conseguir mostrar o mundo que vêm com os seus olhos, nem sequer criar um mundo novo que só no cinema poderá existir.
O problema é que dois olhos distraem mais do que um só. Dois olhos captam banalidades, um olho capta o essencial - porque é forçado ou, se quisermos, treinado a isso. Estou convencido que um filme feito por um invisual seria uma coisa do outro mundo...
Também me soou a pergunta retórica, mas essas são normalmente as mais interessantes de responder, ou tentar. O que eu estava a pensar é que dois olhos, no mundo real, são o que precisamos para perceber a profundidade de campo, as distâncias, as 3 dimensões do mundo. Mas um ecran é plano, o cinema é plano, e a magia acontece sempre a 2 dimensões. A pergunta seria então, alguém que usa apenas um olho tem vantagem na percepção e composição de um mundo que usa 2 dimensões?
A propósito de realizadores cegos, não conheço nenhum, mas conheço um fotógrafo, Evgen Bavcar. Um trabalho interessantíssimo o dele, pelo que produz e pela própria filosofia inerente à criação da imagem fotográfica de uma pessoa cega. Recomendo uma googlada e sobretudo um documentário brasileiro, Janela da Alma, dedicado precisamente ao olhar, com opiniões incríveis de pessoas como o Wenders, o Saramago ou este Bavcar.
8 comentários:
(Ainda que a pergunta me pareça apenas rétorica.)
Na realidade o cinema só tem um olho. O olho da câmara. O problema de muitos realizadores é pensarem com os seus dois olhos e não com esse olho da câmara. E dessa forma acabam por não conseguir mostrar o mundo que vêm com os seus olhos, nem sequer criar um mundo novo que só no cinema poderá existir.
O problema é que dois olhos distraem mais do que um só. Dois olhos captam banalidades, um olho capta o essencial - porque é forçado ou, se quisermos, treinado a isso. Estou convencido que um filme feito por um invisual seria uma coisa do outro mundo...
"Estou convencido que um filme feito por um invisual seria uma coisa do outro mundo..."
Estou tentado a concordar.
Também me soou a pergunta retórica, mas essas são normalmente as mais interessantes de responder, ou tentar. O que eu estava a pensar é que dois olhos, no mundo real, são o que precisamos para perceber a profundidade de campo, as distâncias, as 3 dimensões do mundo. Mas um ecran é plano, o cinema é plano, e a magia acontece sempre a 2 dimensões. A pergunta seria então, alguém que usa apenas um olho tem vantagem na percepção e composição de um mundo que usa 2 dimensões?
A propósito de realizadores cegos, não conheço nenhum, mas conheço um fotógrafo, Evgen Bavcar. Um trabalho interessantíssimo o dele, pelo que produz e pela própria filosofia inerente à criação da imagem fotográfica de uma pessoa cega. Recomendo uma googlada e sobretudo um documentário brasileiro, Janela da Alma, dedicado precisamente ao olhar, com opiniões incríveis de pessoas como o Wenders, o Saramago ou este Bavcar.
Rui Resende: é isso mesmo. Assino por baixo.
Evgen Bavcar? Vou descobrir...
Em terras de cego quem tem olho é rei, já dizia o sábio e famoso ditado do vox poppuli
Está provado que os cegos têm todos os outros sentidos mais apurados. Certo??
Por isso ter só um olho será, quiçá, uma vantagem!!
Cump.
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