Como referi neste post, as expectativas em relação ao filme "Actividade Paranormal" estavam muito altas. Das duas uma: ou era, como muitos diziam, o melhor "filme de terror de sempre (e o mais assustador)" ou era, como os detractores asseguravam, uma verdadeira fraude. E é exactamente o que eu acho. O filme não é mau por ter sido feito em 10 dias da forma mais amadora possível. Não é mau porque, na verdade, nem a uma criança de 10 anos consegue assustar.
É mau porque assume-se como um objecto de cinema quando não passa de um fraco exercício de vídeo. Os actores, assumidamente amadores, são maus. O argumento (não chega a haver argumento) é mau, previsível e cheio de lugares-comuns. A alegada capacidade do filme induzir medo incontrolável no espectador resulta numa experiência patética e inconsequente (pelo menos comigo foi assim).
O hype gerado à volta do filme pela imprensa e pela blogosfera global é totalmente injustificado. Foi marketing gratuito a um produto vazio de ideias. O que me impressiona são os 100 milhões de dólares que já arrecadou em salas de cinema norte-americanas e a comparação com filmes como "O Exorcista" ou "Blair Witch Project" (que partia de uma ideia bem mais consistente). "Actividade Paranormal" é, portanto, um filme paranormal. No pior dos sentidos.
Já "A Fita Branca" é uma película que está nos antípodas de "Actividade Paranormal". O realizador Michael Haneke sabe o que quer e consegue-o com superior capacidade artística. O filme, Palma de Ouro em Cannes, é um testemunho inquietante (mais um) sobre as relações humanas dominadas pelo autoritarismo moral, por um sistema social discriminatório e pelo obscurantismo religioso. A tensão subtil e permanente das personagens percorre o filme, acentuadas pela brilhante qualidade plástica das imagens (um preto e branco radioso, arriscaria, à Dreyer de "Ordet").
Pela, aparentemente pacata comunidade na qual decorre filme, experiencia-se o medo velado pela violência latente (um medo bem mais perturbador do que no filme acima citado). Uma violência que pode começar na insuportável atitude do pai de família, ou pelos operários que se sentem oprimidos pelo poder controlador do Barão. Uma comunidade que, de forma alegórica, antecipa, num registo de micro-sociedade, os horrores da Grande Guerra. Ainda assim, no meio do pessimismo militante de Haneke e da sua habitual austeridade formal, vislumbram-se résteas de bons sentimentos em "A Fita Branca". Destaque especial para as magníficas interpretações do elenco infantil, que consegue transmitir, de forma intensa, as contradições sociais e culturais de uma época.
"A Fita Branca" não é, a meu ver, o melhor filme do austríaco Michael Haneke. Esteticamente é irrepreensível, mas esperava mais densidade dramática, mais audácia narrativa. É que de Haneke esperamos sempre um filme que perturbe o espectador, que o deixe em estado anímico KO após o visionamento. Não é o caso deste (e talvez tenha sido uma opção intencional por parte do realizador).
Ainda assim, um dos filmes do ano.
4 comentários:
Esse Paranormal Activity sinceramente nem sei se hei-de ver. Deu-me logo aquela ideia que ía ser um fiasco, e duvido que não o seja.
Quanto ao novo de Haneke, já estamos a falar de forma diferente. :D
Este tenho boas expectativas, não enormes. Pelo que vi até agora, e tu referes isso na tua crítica, em termos estéticos parece estar muito bom. A ver se para breve o vejo.
Vi ontem Paranormal Activity e achei um filme fraco também... Penso que a personagem feminina está interpretada de forma razoavel e que isso é das poucas coisas "boas" que o filme tem...
Vai um 5/10... nem acho mau de todo, nem nada de especial. É só mais um, que se nao existisse também ninguém sentiria falta.
A Fita Branca, quero mesmo muito ver... e como temos sempre de esperar meses para ver um filme no cinema o mais certo é que acabe por vê-lo antes, no pc...
Finalmente alguém que percebe o ridículo que foi esse primeiro filme (não li sobre o White Ribbon pois ainda não o vi. Não quero spoilers).
Desde o princípio que o Actividade Paranormal me cheirava a golpe publicitário. Se aquilo foi feito em 10 dias é porque, realmente, não houve muito a fazer...
Victor, estou perfeitamente de acordo com as tuas opinões.
Detestei o "Actividade Paranormal" e adorei "A Fita Branca". Não consegui ver até ao fim o primeiro e já vi duas vezes o segundo.
Cumps.
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