quarta-feira, 16 de dezembro de 2009

Erro fatal: dobragem


Carlos Saura (na imagem), um dos mais veteranos e respeitados realizadores espanhóis, disse numa entrevista ao diário ABC, que o maior erro do cinema espanhol foi a opção pela dobragem de filmes estrangeiros. Refere que esta opção, que já tem décadas, leva a que pessoas menos atentas julguem que alguns filmes ingleses e franceses são espanhóis.
Carlos Saura defende que a dobragem impede a aprendizagem natural de uma língua estrangeira e que Espanha deveria seguir o exemplo de França, país que praticamente não dobra filmes (a não ser os filmes de animação para crianças, tal como no nsso país). De facto, Saura também poderia dar o exemplo de Portugal, que sempre legendou filmes e séries de televisão.
Eu vivo há muitos anos perto de Espanha e durante muito tempo, sobretudo na adolescência, habituei-me a ver filmes na televisão espanhola. Mas a partir de um dado momento, começou a fazer confusão na minha cabeça ouvir a mesma voz espanhola que dobrava Al Pacino ser a mesma que dobrava Jack Nicholson ou Marlon Brando. Para além de desvirtuar uma componente importante da interpretação de um actor ou actriz - a voz - a dobragem é, deveras, um sistema contraproducente, até porque deturpa a identidade artística de uma obra fílmica. Ao invés, o sistema de legendas exercita a leitura da língua-mãe ao mesmo tempo que se interioriza a voz da língua original (na interpretação original do actor).
A verdade é que em Espanha institucionalizou-se uma verdadeira e rentável indústria de dobragem de filmes e séries, com actores famosos e profissionais que se dedicam apenas a esta função. E agora já é tarde para voltar atrás... Felizmente que em Portugal fomos um bom exemplo nesta faceta.

16 comentários:

Catarina Norte disse...

Olá!

Acho o seu blog muito interessante!

Quanto a este post, concordo com o que disse! De facto, com a dobragem perde-se um dos aspectos mais importantes de um filme e de uma interpretação: a voz do actor/actriz!A mim custa-me imaginar não conhecer a verdadeira voz de actores como Marlon Brando, Jack Nicholson, Anthony Hopkins ou Scarlett Johansson, citando apenas alguns conhecidos pela sua voz tão característica!

Cumprimentos

Anónimo disse...

Também sou contra as dobragens. Mas o argumento a favor das dobragens é que com as legendas não vês o filme na sua totalidade...Ainda assim prefiro mil vezes sem dobragens.

Unknown disse...

Desde cedo argumentei que era incompreensível dobrar filmes e séries. Perde-se tanto. Como é possível avaliar correctamente a performance de um actor quando este não apresenta a sua própria voz? Não duvido que existam pessoas capazes de dobrar mas nunca será a mesma coisa. É um facto.

Abraço

Bruno Cunha disse...

Concordo contigo, pois odeio filmes dobrados...

No entanto, em França nos canais franceses os filmes são dobrados, embora em Portugal não sejam(ainda bem)...

Várias componentes como a voz e a aprendizagem são impedidas devido às dobragens....

Abraço
http://nekascw.blogspot.com/

cão sem raiva disse...

De facto, Carlos Saura deve estar equivocado. A informação do post está errada. Como disse o Nekas, em França todos os filmes são dobrados. Tanto que até chateia. Sei que o Canal Arte (franco-alemão) é um dos que raramente dobra os filmes.
Como português, não consigo ver filmes dobrados. As vozes não combinam com os rostos, o movimento dos lábios não está em sintonia com as palavras ditas, etc, etc. Às vezes torna-se tudo demasiado ridículo.
Os franceses são péssimos a falar inglês. A sua antipatia pelos ingleses está bem patente na política de dobragem dos filmes: cedo refutaram a hipótese de verem todos os dias a língua inglesa a entrar-lhes pela casa adentro.
Ainda bem que não se passa o mesmo em Portugal!

Paulo Assim disse...

Erro fatal é a afirmação de Carlos Saura quando diz que a França não dobra os filmes. Não deve ver televisão francesa, provavelmente...

Unknown disse...

Para que não restem dúvidas sobre a opinião de Carlos Saura, eis a entrevista - http://www.abc.es/20091216/cultura-cine/carlos-saura-considera-doblaje-200912161716.html

Na verdade, Saura refere-se às salas de cinema e não aos filmes da televisão.

Paulo Assim disse...

Ok. Na verdade pus essa hipótese.
:)

rui resende disse...

pois, também rejeito as dobragens. A interpretação é também voz, e a língua é também música, o inglês e as outras. Uma língua estabelece um ambiente, e isso não é nem interessa tentar simular. Pela felicidade que em Portugal temos de não dobrarmos, os portugueses que vêm filmes, mesmo os menos atentos, percebem isso. No entanto há opiniões (que respeito) que defendem q se devia dobrar (creio que o António P. Vasconcelos é um dos mais ilustres a fazê-lo).

Já agora uma curiosidade. Li isto em tempos, em fonte não totalmente segura pelo que é uma teoria apenas. aparentemente, em Portugal e Espanha usa-se estratégias diferentes (legendar e dobrar) pelos mesmos motivos pouco lícitos: assim, em Portugal nos anos 30 nasceu aquela comédia clássica portuguesa, o cinema "de ouro", e o regime para apoiar estes filmes optou por defender a legendagem. Resultado: num país de muitos analfabetos, poucos iriam ver o produto estrangeiro,não compreenderiam, nem conseguiriam ler. Por outro lado em Espanha, o Franco estava preocupado com a unificação de todas as regiões culturalmente distintas sob a égide de uma ideia de Espanha unida culturalmente,na verdade artificial. Por isso as dobragens apareciam como instrumento de fazer valer a supremacia do castelhano sobre as línguas regionais, galego, catalão, euskera. Curioso, embora possa não ser verdade (total).

eu acho q as dobragens têm os dias contados e mesmo hoje só persistem precisamente pela indústria gerada a volta delas.

abraço

F disse...

Não consigo ver filmes dobrados e esoanhol. Abomino.

Unknown disse...

Rui: sim, é o realizador António Pedro Vasconcelos o grande defensor das dobragens em Portugal. Mas nunca percebi os seus argumentos. Essas razões que invocas para a legendagem e dobragem, da parte portuguesa e espanhola, são correctas. Historicamente (e culturalmente), os motivos que apontas estão certos.

Ricardo disse...

Abomino a dobragem dos filmes. Só a hipótese de ver filmes com John Wayne ou Bogart com voz de outra pessoa, e clamar em voz alta que adoro os filmes deles, como fazem muitas vezes os espanhóis, dá-me vontade de os exterminar da face da terra.

Por isso é que os espanhóis e os franceses não pescam um cu de inglês. É comum vocês ouvirem todo o espanhol (como qualquer bom gabarola que se preze) clamar de forma segura que sabe falar inglês fluente. É só esperar eles abrirem a boca para vermos o resultado.

Nesse aspecto, Portugal é muito mais civilizado do que a França e a Espanha (e eu nunca pensei vir a defender de forma tão veemente o meu país).

Cumprimentos

PortoMaravilha disse...

Creio que uma das razões que leva os filmes a serem legendados é que legendar fica muito mais barato que uma drobagem.

Isto dito : Só vejo filmes legendados.

Que eu saiba todas as escolas e universidades que têm a opção cinema apresentam aos estudantes os filmes estrangeiros legendados.

Que eu saiba existem em França imensas salas de cinema que passam os filmes em Versão Original.

Também é verdade que na Tv os filmes são quase todos dobrados. Todavia, a maioria deles não precisa ser dobrada porque são Franceses.

Também existe em França uma excelente escola e indústria cinematografica. Quer se goste ou não.

Há ,efectivamente, Franceses que falam mal Inglês . Mas não é nenhum crime ! E até há quem saiba falar Alemão e Russo e não Inglês , por exemplo.

Desde há anos que o Inglês é ensinado no primário. E desde há decadas que há inter-cambios , constantes e regulares, entre escolas francesas e inglesas.

Assim, também há muitos Franceses que falam admiravelmente bem Inglês.

Da mesma maneira que há Portugueses ainda analfabetos e há outros com uma cultura fora de série.

O sistema escolar Francês é aquele que apresenta o maior leque de escolha , no que diz respeito à aprendizagem de línguas estrangeiros. É, salvo erro meu, o único na Europa a propor e a dispensar, no segundário , no ensino público , a aprendizagem do Português.

"Ni tout est noir , ni tout est blanc " ( Boris Vian )

E Viva o Porto !

Anagrama Orgânico disse...

É uma daquelas decisões certeiras que nem parece do nosso país. Ainda bem que temos legendagens.

Silly Little Wabbit disse...

Acho o caso de Espanha extremo. Tudo o que passa é dobrado. Mesmo tendo tv por cabo e seleccionando a opção para ver o filme/ série na língua original, raramente existe a opção de legendagem. Para quem não tenha um bom nível de inglês (coisa muito recorrente em Espanha), é literalmente impossível acompanhar um filme na sua versão original. Por hábito e preguiça esta é a norma. O que acho mais curioso, é que maioria das pessoas não se importa, e inclusivamente gosta.

Luis Baptista disse...

Só agora é que perceberam, ainda eu era puto e ouvia o Marlon Brando a falar espanhol na TVE, imaginem...