quinta-feira, 20 de dezembro de 2007

De Profundis


Há um restolhal,
onde cai uma chuva negra.
Há uma árvore castanha;
ali solitária.

Há um vento sibilante, que rodeia cabanas vazias.
Como é triste o entardecer
Passando pela aldeia
A terra órfã recolhe ainda raras espigas.

Os seus olhos arregalam-se redondos e dourados no crepúsculo,
E o seu colo espera o noivo divino.
Na volta os pastores acharam o doce corpo
Apodrecido no espinheiro.
Sou uma sombra distante de lugarejos escuros.

O silêncio de Deus

Bebi na fonte do bosque.
Na minha testa pisa metal frio

Aranhas procuram o meu coração.
Há uma luz, que se apaga na minha boca.
À noite encontrei-me num pântano,
Pleno de lixo e pó das estrelas.
Soaram de novo anjos cristalinos.

Georg Trakl (1887 - 1914)

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