Esta sequência antológica faz parte do imaginário da história do cinema: Janet Leigh a ser esfaqueada no chuveiro por Norman Bates, em "Psycho" (1960). E é uma sequência de estudo obrigatório nas melhores escolas de cinema de todo o mundo. Pela minúcia com que foi filmada - durante 7 dias e mais de 70 planos numa montagem "cirúrgica". E pela utilização da banda sonora original de Bernard Herrmann, absolutamente crucial para despoletar o efeito psicológico pretendido no espectador. Hitchcock queria que a cena não tivesse música, apenas o som da água do chuveiro, dos gritos da actriz e do som das facadas (que na realidade é o som de uma faca a espetar numa melancia). Herrmann insistiu e quando Hitch visionou o resultado final com a música, deu a mão à palmatória. Os violinos estridentes acompanham cada facada no corpo de Leigh, cada grito e estertor, até terminar numa espécie de anti-climax final apaziguador. Mas ao mesmo tempo profundamente perturbante. Durante anos, discutiu-se se nesta sequência aparecia algum plano com a faca a espetar o corpo da actriz. Na verdade, só com o DVD e vendo a sequência frame a frame se pode ver um rapidíssimo (subliminar?) plano onde se vê a faca a espetar o ventre da actriz.
"Psycho" foi filmado a preto e branco porque Hitchcock temia que a cena do chuveiro ficasse demasiado chocante com o vermelho do sangue (agora pode parecer quase inofensiva aos olhos do espectador actual, mas em 1960...). Aliás, na altura da estreia nos EUA, Hitchcock recebeu uma carta de um pai enfurecido, dizendo que a sua filha, apavorada, se recusava a entrar no chuveiro, após ver o filme. Hitchcock respondeu sugerindo ao pai que levasse a filha para uma lavagem a seco. Humor negro, típico de Hitch.
1 comentário:
É uma cena fabulosa de um filme transgressor! Hitchcock foi inteligente ao antecipar a acção da censura, decidindo ele próprio filmar a preto e branco e evitar revelar o corpo ferido de Janet Leigh pelas inúmeras facadas...
Enviar um comentário