Costumo dizer que "Touch of Evil" é, à semelhança de "How Green Was My Valley" (filme de John Ford), um dos mais belos e adequados títulos alguma vez idealizados para um filme. Em "Sede do Mal" perpassa a sofreguidão pelo mal, pelo desejo obsessivo do poder, corporizado por esse inspector tenebroso chamado Hank Quinlan (personagem interpretada pelo próprio Orson Welles). A partir de uma banal história de literatura policial (um detective investiga um assassínio na fronteira mexicana), Welles constrói um filme negro, negríssimo, à volta de uma viagem ao submundo do crime e da corrupção, uma viagem sem regresso aos meandros obscuros da psique humana. Filme de 1958, com magníficas interpretações de Charlton Heston, Janet Leigh, Marlene Dietrich e o do próprio Welles.
Em termos formais, este é talvez o filme visualmente mais rebuscado e barroco da filmografia de Orson Welles (mesmo contando com os expressionistas “O Processo” e “Macbeth”). Welles ensaia nesta obra alguns dos mais inovadores movimentos de câmara (como o longo plano-sequência inicial), ângulos de filmagem, ritmo de montagem, fotografia. Perante tamanha criatividade do realizador, os produtores de “Sede do Mal” cilindraram a obra e apresentaram, à data da estreia, uma outra versão. Welles passou o resto da vida a reclamar o “director’s cut” do filme. Felizmente com o advento do DVD, podem os cinéfilos regozijar-se com essa versão da montagem segundo a visão artística do realizador. Um filme grandioso e excessivo, uma obra para a imortalidade das imagens em movimento.
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