Houve um tempo no qual os programadores de televisão tinham critério na programação de cinema no pequeno ecrã. Houve um tempo em que se viam westerns clássicos ao sábado à tarde e filmes de culto em horário nobre nos dias de semana. Houve um tempo em que o noticiário era rigoroso, formal, objectivo e de duração certa. Isso foi num tempo em que a ditadura das audiências e a feroz política comercial dos canais privados não representavam obsessões quase paranóicas. Desde há muitos anos a esta parte, o serviço público de televisão é um conceito inexistente (que me perdoe Paquete de Oliveira), um mito que já não tem justificação no paradigma audiovisual moderno. O jornalista Ignacio Ramonet tem razão quando reflecte, num dos seus livros que são de estudo obrigatório para estudantes de comunicação social, que a televisão se rege unicamente por critérios sensacionalistas, superficiais e vocacionados para o espectáculo. Os programas de entretenimento são fátuos e de qualidade zero, a informação é ditada pelo lado trágico da vida, pelo lado sensacionalista e mediático, como se vivêssemos num enorme programa perverso de “reality show”. Por outro lado, a televisão pública tende a ser constantemente manipulada pelo poder político (constate-se a recente polémica da intromissão do Estado no controlo da informação da RTP com o jornalista José Rodrigues dos Santos). Cultura, ciência, educação, debate de ideias são conteúdos que assustam os responsáveis pela programação televisiva. À parte um ou outro programa da RTP com conteúdos educativos ou culturais (para fazer de conta que calam os críticos), o resto do panorama televisivo é de uma confrangedora boçalidade. Quem vê muita televisão (sobretudo os quatro canais abertos), acaba por se submeter a um lento e subtil entorpecimento mental. Haja paciência.
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