domingo, 23 de dezembro de 2007

Quem vê TV


Houve um tempo no qual os programadores de televisão tinham critério na programação de cinema no pequeno ecrã. Houve um tempo em que se viam westerns clássicos ao sábado à tarde e filmes de culto em horário nobre nos dias de semana. Houve um tempo em que o noticiário era rigoroso, formal, objectivo e de duração certa. Isso foi num tempo em que a ditadura das audiências e a feroz política comercial dos canais privados não representavam obsessões quase paranóicas. Desde há muitos anos a esta parte, o serviço público de televisão é um conceito inexistente (que me perdoe Paquete de Oliveira), um mito que já não tem justificação no paradigma audiovisual moderno. O jornalista Ignacio Ramonet tem razão quando reflecte, num dos seus livros que são de estudo obrigatório para estudantes de comunicação social, que a televisão se rege unicamente por critérios sensacionalistas, superficiais e vocacionados para o espectáculo. Os programas de entretenimento são fátuos e de qualidade zero, a informação é ditada pelo lado trágico da vida, pelo lado sensacionalista e mediático, como se vivêssemos num enorme programa perverso de “reality show”. Por outro lado, a televisão pública tende a ser constantemente manipulada pelo poder político (constate-se a recente polémica da intromissão do Estado no controlo da informação da RTP com o jornalista José Rodrigues dos Santos). Cultura, ciência, educação, debate de ideias são conteúdos que assustam os responsáveis pela programação televisiva. À parte um ou outro programa da RTP com conteúdos educativos ou culturais (para fazer de conta que calam os críticos), o resto do panorama televisivo é de uma confrangedora boçalidade. Quem vê muita televisão (sobretudo os quatro canais abertos), acaba por se submeter a um lento e subtil entorpecimento mental. Haja paciência.

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