sábado, 29 de março de 2008

A morte pode ser bela

Este é um dos finais de filme mais desoladores e belos dos últimos anos: "O Tempo Que Resta" (2006), do cineasta francês François Ozon (talvez o mais interessante realizador francês da nova geração). Vítima de uma doença terminal aos 30 anos, o jovem Romain decide refugiar-se de tudo e de todos e viver os seus últimos momentos de existência numa praia. A forma como Ozon encena estes últimos 7 minutos de filme são de um sublime despojamento e paradoxal experiência. Romain, o outrora famoso fotógrafo da moda, sabe que a aproximação da morte é iminente e, querendo enfrentar esse momento final na mais completa solidão, escolhe para morrer uma praia cheia de famílias e crianças felizes. Romain aprecia e saboreia os insignificantes instantes de vida revelando um olhar já triste e derrotado. Deita-se na toalha de frente para o sol para a derradeira despedida e com um subtil sorriso estampado no rosto. A praia fica deserta. Ouve-se a música elegíaca de Arvo Pärt. François Ozon filma aquele corpo já morto, no deserto em que se tornou aquela praia, como se estivesse a renascer. Os últimos resquícios de sol parecem reflectir-se no rosto inerte de Romain. E o último plano do pôr-do-sol é já a morte a resgatar a alma de Romain. Visconti não teria desdenhado este final de filme (vide " Morte em Veneza"). Belo, belo.

2 comentários:

Anónimo disse...

É, sem dúvida um dos filmes que melhor remetem para o trabalho de Visconti... Mahler e A. Part são dois suportes musicais de referência. Dois filmes obrigatórios, tal como este blog. Parabéns .
Absolute Beginner

Unknown disse...

Caro anónimo: obrigado pelo comentário.
VA