sexta-feira, 7 de março de 2008

O Estado controlador


A História ensina-nos que os regimes totalitários e repressivos tendem a usar métodos autoritários e controladores das movimentações das populações, impedindo reacções de insubmissão, de descontentamento social e político. Foi assim com o triste período do Salazarismo. Três décadas depois do 25 de Abril, presume-se que vivamos numa sociedade livre, democrática e de direito. Acontece que com o Governo de José Sócrates têm acontecido diversos acontecimentos que revelam uma tendência contrária aos valores supostamente adquiridos com Abril de 74. O caso mais recente e inexplicável é a visita da PSP a várias escolas do país para pedir esclarecimentos sobre quantos professores vão participar amanhã na manifestação de Lisboa. E quantos autocarros vão, qual o itinerário percorrido, etc. Chama-se a isto controlo encoberto das movimentações populares, de forma subtil mas com efeitos que têm suscitado enormes contestações. A própria direcção nacional da Polícia de Segurança Pública veio dizer que houve um mal entendido e que não houve intenção de controlar as participações livres dos professores na manifestação. Ora, depois dos exemplos recentes das invasões, por parte da PSP, de sedes de sindicatos de professores (na Covilhã) e da identificação dos principais líderes das últimas manifestações públicas, há que convir que esse “mal entendido” será mais do que isso. O direito à manifestação e à livre opinião sobre políticas educativas que não foram discutidas nem propostas, mas sim impostas autoritariamente, é um direito inalienável dos cidadãos. Que haja estas formas algo sub-reptícias de controlo e de identificação dos manifestantes por parte da autoridade a mando do Estado, é um grave sintoma da decadência do nosso sistema democrático. A indignação dos professores subiu hoje de tom quando a Ministra da Educação, do alto da sua torre de marfim, veio dizer que a classe docente protesta porque esta “não percebe” os princípios da avaliação. Em pleno século XXI, as visões negras de uma sociedade manietada e repressiva constantes em “1984”, de George Orwell, vão-se implementando na dura realidade do dia-a-dia.

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