Como hão-de sobreviver os jovens realizadores portugueses quando até os consagrados e com carreiras feitas têm imensas dificuldades em conseguir subsídios para os seus filmes? O Instituto do Cinema e Audiovisual revelou os contemplados com um subsídio total de 2,6 milhões de euros, unicamente para quatro realizadores: o crónico Manoel de Oliveira (700 mil euros); o chileno Raoul Ruiz (700 mil euros, num projecto do produtor Paulo Branco); Bruno Almeida (600 mil euros, para um filme sobre Humberto Delgado - produzido por... Paulo Branco); e Catarina Ruivo (600 mil euros para um filme denominado "Em Segunda Mão").
Como se vê, Paulo Branco continua, ano após ano, a conseguir milhões de euros de subsídio do Estado para os projectos em que está envolvido. Para que estes quatro realizadores tivessem o dinheiro que receberam, ficaram de fora candidaturas de realizadores tão importantes (e veteranos, alguns deles) como Margarida Gil, José Nascimento, Leonel Vieira, Luís Filipe Rocha, António da Cunha Telles e Joaquim Leitão. É um exemplo de como o cinema português continua a não ser devidamente apoiado. Contam-me amigos que conhecem o meio que há lobbies fortíssimos que monopolizam subsídios e apoios estatais, em detrimento do apoio aos novos cineastas e aos realizadores veteranos. Os subsídios estatais e privados à criação cinematográfica no resto da Europa são muitíssimo mais elevados do que em Portugal. Por cá, tirando Paulo Branco e Manoel de Oliveira, que são sempre beneficiados com subsídios anuais (não retirando o devido mérito artístico aos dois, entenda-se), os jovens realizadores desesperam por apoios para a sua actividade cinematográfica, por mais qualidade que os seus projectos possuam. O cinema, por ser uma arte dispendiosa, não vive sem apoios financeiros avultados (ou minimamente consideráveis), venham de onde vierem.
Mesmo o João Salaviza, jovem e confirmado talento nacional que ganhou a Palma de Ouro em Cannes, vai ter imensas dificuldades em fazer filmes em Portugal. A não ser que tenha um forte apoio de uma figura estabelecida no meio, como Paulo Branco ou outro produtor de referência. José Sócrates confessou que tinha dado pouca atenção à cultura durante o seu mandato. Seria bom que emendasse a mão redefinindo o apoio estatal à criação artística em geral, e ao cinema em particular.
7 comentários:
Sem duvida, verbas, poucas e despropositadas, justifica-se esse senhor receber tanto, parece-me que não, depois o resultado é o que se vê e além disso não se justifica nestes dias 700 mil para Manoel de Oliveira, parece-me um contrasenso, não se justifica certamente, certamente que os novos talentos e onde se podia ver uma luz em termos de inovação e surpresa, ficam a aguardar novos (velhos) dias.
Verbas mais que suficientes atendendo à fraquissima qualidade do cinema português!!!
Agradeço a visita e o comentário. Voltarei aqui mais vezes.
Beijos, flores e estrelas *****
Na minha opinião acho muito bem que o Manuel de Oliveira seja apoiado pelo ICA, quer se goste ou não dos filmes dele é sem dúvida o mais prestigiado realizador Português e isso é sempre importante para o nosso país.
É lamentável claro que nem toda a gente, principalmente os novos cineastas, tenham oportunidade de puder receber alguns subsídios. E ainda pior é ver filmes (se é que os podemos chamar de filmes) como por exemplo o 100 Volta que receberam cerca de 25.000€ do ICA isso sim é completamente lamentável.
Julgo que deveria haver um concurso especial, mesmo com subsídios muito mais baixos e que pudesse ajudar jovens cineastas e primeiros projectos.
Existem concursos especificos para primeiras e segundas obras. O problema, na minha opinião, é o pouco dinheiro dispendido para os concursos. Essa falta de dinheiro leva a que apenas se possam apoiar por ano tão poucos realizadores. A escolha dos realizadores nunca será matéria fácil - eu próprio não sei como seria a melhor forma de distribuir o dinheiro. Resultados de bilheteira? Nesse caso alguns dos filmes considerados piores ao nível artístico seriam quase sempre contemplados em detrimento de outros com maior valor artístico mas menor número de público.
A única solução para melhorar a situação do cinema em Portugal seria uma maior disponibilização de dinheiro para concursos. O que hoje em dia se distribuiu corresponde à bancada de um estádio de futebol (para o Euro foram 10 e agora já falam no Mundial em 2018) ou a uma pequena derrapagem habitual em qualquer obra que se faz no país.
É fácil dizer que o cinema português é mau (mas filmes maus há em todo o lado, não é um exclusivo nacional) mas quem tenha a minima noção de quanto custa fazer um filme, rapidamente se iria aperceber de alguns pequenos milagres que ainda se vão fazendo no cinema nacional.
Pois bem: quando se diz que o cinema português é mau, está-se a mostrar alguma ignorância, aceitável pela fraca e desconsiderada distribuição em sala dos filmes nacionais (lembremos o primeiro filme longo de Sandro Agilar -A Zona- que esteve só uma semana numa só sala em todo o país e por isso não chegou a ter mais de 500 espectadores).
Por outro lado, basta ver o último filme de Oliveira (Singularidades de uma Rapariga Loira) e perceber porque é que ele é o maior cineasta português, cheio de inovação e destreza narrativa, sem ceder ao facilitismo do populismo comercial (Lembro-me de Corrupção), mantendo o seu estilo e portanto dando alma ao filme (coisa que Michael Bay não deve saber se quer o que é, no entanto gasta 200 milhões nos seu último filme e ,pelos resultados das bilheteiras, o público parece adorar - com um orçamento daqueles, Portugal tinha dinheiro de sobra para apoiar o cinema nacional durante mais de uma década).
Tenho ainda que acrescentar que é também um mito a ideia de que novos cineastas não têm dinheiro: Vicente Alves do Ó acabou de filmar a sua primeira longa (Quinze pontos na Alma), obra com um orçamento de 900 mil euros, assim como João Nuno Pinto filmou a sua primeira longa (América) com um orçamento de 1.4 milhões, ou ainda Ivo M. Ferreira que filmou recentemente a sua primeira Longa (Águas Mil) ou ainda Marco Martins que vai na sua segunda longa (depois de Alice vem How to draw a perfect circle).
Acredito que haja espaço para todos, novos cineastas, grandes nomes (como Oliveira, Fernando Lopes, Vasconcelos, Paulo Rocha, João Mário Grilo, Botelho) e ainda para o cinema comercial (Contraluz de Fernando Fragata ou Uma Aventura na casa Assombrada de Carlos Coelho da Silva são filmes que chegarão dentre em breve às salas portuguesas).
Não me alongando mais devo acrescentar que de facto a atribuição de subsídios pelo ICA é irregular (vejam-se os filmes de Francisco Manso - A ilhas dos escravos e O Último condenado à morte- obras sem sucesso de público, nem crítico, nem em festivais, e no entanto tem apoios para um terceiro filme). Há que lembrar a criação do FICA administrado por uma instituição privada (lobbies ficam em casa) em colaboração com os canais televisivos de sinal aberto ou ainda as novas produtoras como Filmes Fundo ou Ukbar filmes que se têm vindo a destacar-se pela qualidade e ainda a existência de fundos internacionais como o Ibermédia para os países de língua portuguesa e espanhola.
Peço desculpa pela extensão do comentário, mas há coisas que me incomodam e dizerem mal do cinema português é uma delas.
e eis senao qd fico sem palavras porque os dois comentadores anteriores já as disseram por mim.
disponibilizar mais verbas para primeiras e segundas obras, bem como aumentar a verba disponivel para apoio aos restantes casos, é a única solução.
chamo contudo a atenção para que este sistema, tao criticado, é contudo transparente qb, desde que foi regulamentado pelo ministro carrilho. até aí era a vergonha TOTAL.
neste país a memória é curta, e, como tal, injusta...
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